São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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'Senhorita Else' dessacraliza o privado

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

"Senhorita Else", texto de Arthur Schmitzler escrito no começo do século, será levado ao palco com parafernália tecnológica pela Cia. Razões Inversas, do diretor Márcio Aurélio.
Desta vez, TV e vídeo vão mostrar os sentimentos e pensamentos de Else, uma menina de 19 anos. No cenário, 12 torres cercarão o palco.
É na boca de cena que tudo acontece em "Senhorita Else".
Enquanto a ação se desenrola à frente, no fundo estarão as vozes e imagens do que as personagens estão sentindo ou intencionando. "É um trabalho em cima de estereótipos. Confronto o que está sendo visto com a situação que revela a condição psicológica de quem fala", disse o diretor.
Mas, segundo ele, a música, sugerida pelo próprio autor, também é reveladora. "Ela é uma forma sofisticada de representar as nuances da personagem", afirmou.
Schmitzler reproduzia partituras com trechos de música em seu texto para mostrar o ritmo dos personagens. Em uma das cenas, o autor cita uma sonata de Beethoven. "Ouvi com cuidado todas as sonatas, mas percebi que ele se referia à 'Sonata ao Luar', que é o estereótipo das sonatas românticas para a representação de uma mocinha."
"Senhorita Else" traz a história de uma menina que está passando férias com a tia rica e um primo médico. Ela (Else) recebe uma carta de sua mãe sugerindo que conseguisse dinheiro junto a um barão rico hospedado no mesmo hotel para salvar a família da falência.
Else teria de fazer tudo escondido da tia, em um prazo de dois dias. Ela pede o favor ao barão, mas ele diz que só daria o dinheiro se a visse nua por 15 minutos.
"Schmitzler trata da revelação pública de algo privado. É uma situação ingênua que caracteriza a grande liquidação que vivemos hoje. Else tem que entrar nesse jogo", disse Márcio Aurélio.
Segundo o diretor, Else, no fundo, era uma menina que esperava um príncipe. Este era o seu ideário mítico, que não corresponde à sua realidade.
A tia é interpretada por um homem, caracterizando o feminino que é masculinizado pelo poder. "Não vemos a realidade, mas o que ela provoca. Tornamos a realidade reveladora", afirmou Márcio Aurélio.

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