São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997 |
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Billy Bob se surpreende com o sucesso
JEANNE WOLF
Ele e Epperson, juntos, escreveram o roteiro de "One False Move", que Thornton co-estrelou no papel de um traficante durão, e "Family Thing". Thornton também trabalhou como ator, em filmes que vão de "Tombstone" a "Proposta Indecente". Thornton ganhou fama de ser totalmente independente, o tipo de sujeito que já desistiu de reuniões marcadas com executivos dos maiores estúdios porque eles o haviam feito esperar. Ele conseguiu juntar US$ 1 milhão para produzir "Sling Blade" e fez o filme à sua maneira -ou seja, ele mesmo sendo roteirista, diretor e ator principal. O resultado é a história comovente de um homem mentalmente perturbado, Karl Childers, que passou a maior parte da vida numa instituição psiquiátrica depois de matar sua mãe. Leia a seguir trechos da entrevista que Billy Bob concedeu à Folha. * Folha - Você se surpreendeu ao constatar que "Sling Blade" atraiu uma platéia tão ampla? Billy Bob Thornton - Fiquei feliz, porque eu esperava que comovesse as pessoas. Na realidade, acho que "Sling Blade" é o tipo de filme a que é preciso assistir duas ou três vezes, porque trata de coisas que mexem com pessoas diferentes. Mas, basicamente, é uma história simples -a de um homem que se sacrifica, em sua cabeça, para salvar uma criança do destino que ele mesmo sofreu. Folha - De onde veio esse personagem de Karl Childers? Thornton - É uma história meio estranha. Em meados dos anos 80, eu estava fazendo um papel pequeno de cobrador ferroviário e tinha que usar uniforme de lã, apesar do calor. Eu ficava muito estranho. Na hora do almoço, fui a meu trailer, me olhei no espelho e pensei: "Estou com cara de idiota". Comecei a fazer caretas e a falar sozinho na voz de Karl. Fiz o monólogo do início de "Sling Blade", quando Karl revive o momento em que matou sua mãe. Folha - Quando você representa Karl, você fala num tom só. Externamente, pouca coisa acontece, mas você consegue transmitir para a platéia que muita coisa está acontecendo em nível interior. Foi difícil fazer isso? Thornton - Não. Acho que Karl veio a mim do cosmos. Sabe como é, carregamos outras pessoas conosco ao longo de nossas vidas. Meu bisavô andava como Karl. Folha - Ele é mentalmente retardado? Thornton - As pessoas exageram essa coisa de ele parecer ser retardado. Na realidade, provavelmente não é. Quando criança, Karl era tratado como animal. Ele dormia num buraco no chão e é por isso que anda curvado para baixo. Folha - Ele sofreu crueldades incríveis cometidas por seus pais, especialmente por sua mãe. Thornton - Sim. Descobri que às vezes os pais utilizam a criança como objeto do ódio que sentem um pelo outro e do ódio que têm pela vida em geral. Folha - Você optou por não mostrar violência explícita na tela. Thornton - As pessoas que gostam de mostrar muita violência em seus filmes normalmente não a conheceram de perto na vida real. A violência é uma coisa feia, e, para transmiti-la às pessoas de maneira que não promova mais violência, é preciso mostrar que é feia, e não instigante. Folha - Você já estava fazendo sucesso como roteirista e ator. Por que quis se tornar diretor? Thornton - Não estou realmente me tornando um diretor. Trabalhei como diretor por necessidade. Esse filme é muito pessoal. Folha - Parece difícil acreditar que você foi indicado ao Oscar? Thornton - Eu jamais teria imaginado que isso pudesse acontecer. Sou inseguro e pessimista demais em relação a meu próprio futuro. Tradução de Clara Allain Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna da David Drew Zingg. Texto Anterior: "Perpétua" se revela cômica e cortante Próximo Texto: Academia de Hollywood e festivais seguem lógicas bastante diversas Índice |
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