São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Billy Bob se surpreende com o sucesso

JEANNE WOLF
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Antes de surpreender Hollywood com seu sucesso em "Sling Blade", para o qual foi indicado aos Oscars de melhor ator e roteiro adaptado, Billy Bob Thornton era uma espécie de rebelde. Veio do Arkansas, ao lado de seu amigo Tom Epperson, e alcançou sucesso modesto como ator e roteirista.
Ele e Epperson, juntos, escreveram o roteiro de "One False Move", que Thornton co-estrelou no papel de um traficante durão, e "Family Thing". Thornton também trabalhou como ator, em filmes que vão de "Tombstone" a "Proposta Indecente".
Thornton ganhou fama de ser totalmente independente, o tipo de sujeito que já desistiu de reuniões marcadas com executivos dos maiores estúdios porque eles o haviam feito esperar.
Ele conseguiu juntar US$ 1 milhão para produzir "Sling Blade" e fez o filme à sua maneira -ou seja, ele mesmo sendo roteirista, diretor e ator principal. O resultado é a história comovente de um homem mentalmente perturbado, Karl Childers, que passou a maior parte da vida numa instituição psiquiátrica depois de matar sua mãe.
Leia a seguir trechos da entrevista que Billy Bob concedeu à Folha.
*
Folha - Você se surpreendeu ao constatar que "Sling Blade" atraiu uma platéia tão ampla?
Billy Bob Thornton - Fiquei feliz, porque eu esperava que comovesse as pessoas. Na realidade, acho que "Sling Blade" é o tipo de filme a que é preciso assistir duas ou três vezes, porque trata de coisas que mexem com pessoas diferentes. Mas, basicamente, é uma história simples -a de um homem que se sacrifica, em sua cabeça, para salvar uma criança do destino que ele mesmo sofreu.
Folha - De onde veio esse personagem de Karl Childers?
Thornton - É uma história meio estranha. Em meados dos anos 80, eu estava fazendo um papel pequeno de cobrador ferroviário e tinha que usar uniforme de lã, apesar do calor. Eu ficava muito estranho.
Na hora do almoço, fui a meu trailer, me olhei no espelho e pensei: "Estou com cara de idiota". Comecei a fazer caretas e a falar sozinho na voz de Karl. Fiz o monólogo do início de "Sling Blade", quando Karl revive o momento em que matou sua mãe.
Folha - Quando você representa Karl, você fala num tom só. Externamente, pouca coisa acontece, mas você consegue transmitir para a platéia que muita coisa está acontecendo em nível interior. Foi difícil fazer isso?
Thornton - Não. Acho que Karl veio a mim do cosmos. Sabe como é, carregamos outras pessoas conosco ao longo de nossas vidas. Meu bisavô andava como Karl.
Folha - Ele é mentalmente retardado?
Thornton - As pessoas exageram essa coisa de ele parecer ser retardado. Na realidade, provavelmente não é. Quando criança, Karl era tratado como animal. Ele dormia num buraco no chão e é por isso que anda curvado para baixo.
Folha - Ele sofreu crueldades incríveis cometidas por seus pais, especialmente por sua mãe.
Thornton - Sim. Descobri que às vezes os pais utilizam a criança como objeto do ódio que sentem um pelo outro e do ódio que têm pela vida em geral.
Folha - Você optou por não mostrar violência explícita na tela.
Thornton - As pessoas que gostam de mostrar muita violência em seus filmes normalmente não a conheceram de perto na vida real. A violência é uma coisa feia, e, para transmiti-la às pessoas de maneira que não promova mais violência, é preciso mostrar que é feia, e não instigante.
Folha - Você já estava fazendo sucesso como roteirista e ator. Por que quis se tornar diretor?
Thornton - Não estou realmente me tornando um diretor. Trabalhei como diretor por necessidade. Esse filme é muito pessoal.
Folha - Parece difícil acreditar que você foi indicado ao Oscar?
Thornton - Eu jamais teria imaginado que isso pudesse acontecer. Sou inseguro e pessimista demais em relação a meu próprio futuro.

Tradução de Clara Allain

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna da David Drew Zingg.

Texto Anterior: "Perpétua" se revela cômica e cortante
Próximo Texto: Academia de Hollywood e festivais seguem lógicas bastante diversas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.