São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Polícia ficou com droga, diz mafioso

DOS ENVIADOS ESPECIAIS À CALÁBRIA

Um dos principais participantes do esquema de tráfico de droga que envolve PC Farias acusa a Polícia Federal brasileira de se apropiar de 900 kg de cocaína em apreensão ocorrida no Brasil em 2 de julho de 1993.
A acusação consta do depoimento do mafioso italiano Antonio Scambia, 66, à polícia do país.
"O carregamento era de 3.000 kg, mas a apreensão foi formalmente autuada para 2.100 kg. A parte restante ficou evidentemente com a polícia brasileira", disse Scambia em seu depoimento.
Ele era um dos responsáveis pela organização da operação e disse ter estado algumas vezes no Brasil para supervisionar preparativos.
Esse depoimento foi dado na Procuradoria da cidade de Turim (norte da Itália), na manhã de 7 de abril de 1994. Em interrogatórios sucessivos, Scambia confirmou a quantidade de 3.000 kg.
A droga teria sido embarcada em junho de 1993 no Rio Grande do Sul, escondida num carregamento de couro e solas de sapato.
Os "carabinieri" (a polícia militar italiana) contam uma versão diferente, que sustenta a atuação da PF. A direção do ROS (o comando de operações especiais) informou à Folha que o carregamento deveria ter saído em maio com 3.000 kg. Mas, por problemas de segurança, teria sido adiado por um mês e dividido em dois lotes.
O primeiro, com cerca de 2.000 kg, teria sido apreendido pela PF em 2 de julho. O restante, uma tonelada, teria chegado à Itália um mês depois.
Essa versão, porém, é contestada por Scambia. Segundo ele, o carregamento partiu com 3.000 kg e foi integralmente apreendido.
Ele chega a dizer em depoimento que o investimento feito pelo "pool" de importadores italianos da cocaína foi todo perdido. "Perdemos tudo o que foi pago antecipadamente, sem que isso nos induzisse a desistir da operação."
Outro mafioso arrependido que ajudou nas investigações, Arturo Martucci, 45, não cita carregamento de 1.000 kg do Brasil.
Em nenhum outro carregamento a quantidade informada pelo exportador era menor do que a embarcada. E nenhum carregamento foi dividido em dois lotes.
Outro lado
O chefe da Divisão de Repressão a Entorpecentes da PF, Marco Antonio Cavaleiro, disse não haver possibilidade de 900 quilos de cocaína serem desviados em grandes operações de combate ao tráfico.
Segundo ele, o desvio da droga por policiais nessas operações é dificultado porque elas geralmente envolvem grupos da PF de diversos Estados e de agentes do DEA (Drug Enforcement Agency), órgão norte-americano especializado no combate ao narcotráfico.
Colaborou a Sucursal de Brasília

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