São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Produtividade permite corte na jornada

Tese é da Seade e do Dieese

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento sustentado da produtividade nos últimos anos é suficiente para que a redução da jornada de trabalho não cause impacto sobre os custos das empresas.
Esse é o ponto de vista de Pedro Paulo Martoni Branco, da Fundação Seade, e de Antônio Prado, do Dieese.
Segundo Martoni Branco, a maior parte dos ganhos de produtividade -com as novas tecnologias e os novos métodos gerenciais- estão sendo incorporados pelas empresas como lucro.
"A redução poderia ajudar a repartir esses ganhos. As condições técnicas já permitem isso", disse.
Prado segue o mesmo raciocínio. Para ele, uma simples flexibilização da jornada, como defendem alguns empresários, é insuficiente para criar empregos. "A flexibilização, no máximo, evita o fechamento de vagas, mas não cria novos empregos", compara.
Os empresários que se opõem à redução argumentam justamente que ela causaria aumentos de custo nas empresas.
O diretor de Relações Trabalhistas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Roberto Ferraiolo, acha, por exemplo, que a flexibilização é mais importante que a redução da jornada.
A flexibilização, segundo ele, ajudaria a reduzir os custos das empresas, porque os gastos com demissões são altos no Brasil.
Em vez de demitir quando a produção estivesse menor, os trabalhadores poderiam trabalhar menos. Já em épocas de "pico", os empregados trabalhariam mais.
"O sistema brasileiro é rígido. A flexibilização é muito mais racional que uma redução pura e simples, que só ajudaria a aumentar os custos", argumenta.
Números em xeque
Ferraiolo também duvida das projeções de empregos que seriam criados com a redução da jornada.
Segundo ele, só o desenvolvimento sustentado (leia-se crescimento de no mínimo 6% ao ano) é capaz de gerar empregos.
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, da Unicamp, também duvida que seja possível projetar a criação de 3,6 milhões de empregos com a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais.
Rodrigues faz um raciocínio cartesiano para rebater os números: "Se reduzir a jornada em 4 horas gera três milhões de empregos, então por que não reduzir 8 horas e criar seis milhões?", brinca.
No entanto, reduzir a jornada no Brasil seria seguir a tendência do capitalismo moderno, afirma.
Prado, do Dieese, explica que os 3,6 milhões de empregos projetados pela entidade foram baseados no exemplo da redução de 88.
O Dieese comparou o total da população ocupada em 87 e 89 e usou o crescimento do nível de emprego como base. Por esse cálculo, a redução de 10% da jornada equivale a um crescimento de 7% no nível de emprego. A população assalariada no país é estimada em 51 milhões de pessoas.
(SL)

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