São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Critérios bizarros invadem seleção

Secretária vegetariana é um dos exemplos

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Precisa-se de: secretária vegetariana, cozinheiro "sem vícios", recepcionista de exatamente 1,70 m, vendedor do signo de capricórnio com ascendente em áries e cobradora com "voz impecável".
É só ficar atento aos anúncios de emprego. Várias empresas impõem pré-requisitos bizarros para candidatos a uma vaga.
Um dos anúncios mais curiosos dos últimos tempos foi quando a Taps Associação Beneficente, de São Paulo, pedia uma secretária. Pré-requisito: ser vegetariana.
"Nós vivemos de acordo com o que pregamos", diz a diretora da instituição, que se identifica apenas como Higa. "Somos uma instituição de ensino e educação em saúde, sem fins lucrativos."
A entidade, diz ela, "ensina como se alimentar bem e prevenir com isso problemas de saúde".
Os astros também podem decidir o destino do candidato. "Outro dia, fui preencher uma ficha para uma vaga de vendedora em que tinha de colocar meu signo. Achei um absurdo", afirma Beatriz Garcia Jorge, 30. "É normal perguntarem ocupação de pai, mãe, irmãos. O que isso importa?"
Durante uma entrevista de emprego, Adriana Macedo Regino, 27, assistente de marketing do STB (escritório de intercâmbio cultural), teve de declarar seu signo.
"Quando entrei aqui também perguntaram. Mas na empresa anterior parecia que era algo essencial", diz Adriana, que já esteve em uma empresa em que não bastava não fumar no trabalho -era preciso também ser não-fumante.
Não só aparência e hábitos, mas também a voz pode eliminar o candidato. Na semana passada, Renato Macedo, 45, da JS Publicidade, solicitava uma assistente de cobrança por telefone de "postura vocal impecável". "Tem de ter voz perfeita, bonita. A minha mesmo não serviria", diz.
"Mapa astral eu até já vi. Acho um absurdo. Quem é competente trabalha independentemente de signo ou qualquer outra coisa", afirma Marcelo Quadros Bezerra, 26, que é operador de telemarketing da Golden Cross.
"Eu não viraria vegetariano para conseguir um emprego. A não ser que fosse um salário maravilhoso, uns US$ 10 mil. Daí eu toparia. Depois que inventaram o hambúrguer de soja, tudo bem."
Apesar de tantas excentricidades, casos assim são exceção. "O mais normal é requisitarem boa aparência e determinada idade", diz Marli Chalabi, gerente da agência de empregos Gelre, uma das maiores de São Paulo.
"Nunca vi essas coisas, em dez anos de trabalho com recrutamento. O que há é crescimento dos exames grafológicos."

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