São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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CRIADOR E CRIATURA

A sucessão municipal e uma conveniente viagem ao exterior permitiram que o ex-prefeito Maluf não fosse exposto com tanta evidência no escândalo dos precatórios.
Enquanto os governadores Paulo Afonso, Miguel Arraes e Divaldo Suruagy são inquiridos sobre irregularidades, em São Paulo é o ex-secretário das Finanças quem tem respondido (ainda que insatisfatoriamente) às investigações da CPI. O ex-secretário Pitta sucedeu ao mandatário Maluf. Os governadores, diferentemente, ainda estão no cargo.
Mas, se isso ajuda a explicar por que o foco das atenções se deslocou no caso de São Paulo, não diminui em nada a responsabilidade do ex-prefeito pelas eventuais irregularidades cometidas em sua gestão.
Não se trata de filigranas, mas de recursos capazes de definir uma eleição. São R$ 607 milhões que o Tribunal de Contas do Município concluiu terem sido desviados do pagamento de precatórios. Segundo o TCM, isso ocorreu no ano eleitoral de 1996.
Na ausência de precatórios a honrar, a prefeitura não poderia, segundo a Constituição, ter incorrido nesse endividamento -cujo ônus recairá sobre os paulistanos. Ademais, se, como sugere a análise do TCM, os recursos foram usados em obras e demais gastos, aí está outra questão que merece ser averiguada. A história do país está repleta de casos de superfaturamento que servem não só ao enriquecimento ilícito, como ao financiamento de campanhas.
Vem complicar a posição do ex-prefeito a suspeita da CPI de que a corretora Split possa ser o elo por meio do qual foi evadida a maior parte dos R$ 49,5 milhões pagos a mais pelos tomadores finais dos títulos de Pernambuco (assessorado, aliás, pela cúpula da Secretaria das Finanças de São Paulo). A Split esteve envolvida com o esquema Paubrasil, de financiamento das campanhas de Maluf.
Dada a quantidade de questões mal explicadas, seria de esperar que o ex-prefeito, avalista da candidatura Pitta, estivesse presente ao menos para dar alguma satisfação aos eleitores que lhe foram fiéis.

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