São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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A DROGA NO PODER

Nas últimas semanas, revelações da polícia indicam que o esquema montado por Paulo César Farias fazia muito mais do que espalhar focos de assalto aos cofres públicos.
Aventa-se que PC estava enredando o governo da República nas malhas financeiras das quadrilhas internacionais de tráfico de drogas.
Isso está longe de ser apenas um caso de polícia. Tornou-se público que, graças à rede PC, o Brasil pode fazer parte do miserável grupo de países onde narcodoleiros frequentam os corredores mais altos do poder.
Pior: as armações do tesoureiro de Fernando Collor levantam a suspeita de que o Estado brasileiro é permeável a esse tipo de atuação.
São conhecidas as consequências da infecção do governo e da economia de um país pelo vírus do narcotráfico. Nos casos mais extremos da América Latina o dinheiro sujo corrompe a vida política nacional para sustentar esquemas financeiros, de produção e de comércio da droga.
Em certos países, conflitos de interesses mafiosos transformam em guerras de quadrilha as disputas políticas e partidárias. Assassinatos e sequestros tornam-se comuns em todos os níveis da sociedade.
No Brasil, tais crimes já se tornaram rotineiros, mas são creditados à bandidagem de "baixo nível" (entenda-se: criminosos de origem pobre) e atingem cidadãos que, se não podem ser chamados de anônimos, não estão habitualmente ligados ao poder político. Ainda assim, a situação é sabidamente grave nesse nível.
Os novos indícios sobre a verdadeira extensão da rede PC deve alertar para o fato de que o Brasil é vulnerável à malha do narcotráfico, assim como qualquer nação latino-americana. Que não se espere que a degradação da vida nacional comece a atingir o nível a que desceu a dos países mais atingidos para que sejam elaboradas políticas de combate ao tráfico e crimes conexos. Até agora não se conhecem, no continente americano, casos de cura onde o vírus da droga se instalou.

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