São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Caminhos das areias douradas

MORAES EGGERS

Os desertos escondem vida e esbanjam beleza ao longo de quilômetros e quilômetros de uma imensidão silenciosa e sedutora
Fora da rota turística dos brasileiros, viagens e passeios a desertos são um magnético atrativo cada vez mais poderoso.
O cinema é fã número um das areias escaldantes. Filmes como "Lawrence da Arábia" e, mais recentemente, "O Paciente Inglês" nos fazem viajar nas telas, mas passam uma imagem exageradamente estereotipada dos desertos. É inevitável pensar em um pobre moribundo rastejando na areia com o rosto rachado, suplicando por água.
Engana-se, porém, quem pensa que os desertos são, literalmente, desertos. Escondem perigos em suas areias e, por incrível que pareça, vida. Olhares mais atentos podem ver animais que vão desde os escorpiões e cobras, passando por abutres e roedores, até cabras, mulas e camelos.
A imensidão silenciosa do deserto é sedutora e sua contemplação nos faz sentir tão microscópicos quanto um grão de areia. Em algumas horas, o deserto cria uma ilusão de ótica pelo excesso de claridade. As areias, finas e douradas, têm essa cor por muitos quilômetros e faz com que as dunas pareçam estar no mesmo nível. Um mesmo cenário vai mudando completamente conforme a posição do sol, formando um espetáculo de luzes e sombras da natureza.
Maior do mundo
Atravessando o mar Mediterrâneo, de barco ou avião, já no continente africano, encontramos as montanhas da cadeia do Atlas, onde o frio é intenso. Entre a primeira cidade no Marrocos, Nador, e Er Rachidia, o platô de Rekkam, que se estende até o Norte da Algéria, domina a paisagem repleta de muitas pedras.
Er Rachidia possui estrutura e hotéis e é a primeira opção de estadia. Mas é mais abaixo, em Ouarzazate, que verdadeiramente se sente o vento que sopra continuamente do Saara. Mais ao sul, dentro do deserto, fica Goulimine, última opção recomendável a turistas. Em todas essas cidades, existem serviços de ônibus ou de jipes com guias que levam os interessados até o encontro das areias: não demoram mais que vinte quilômetros em média.

ACESSO: os brasileiros precisam estar vacinados contra febre amarela e ter visto de turista. A passagem São Paulo-Marrocos-São Paulo custa US$ 1.189, até 14 de junho.

Na mochila: água e comida para no mínimo três dias, mesmo que o passeio vá durar três horas. Protetor solar com fator de proteção alto. Saco plástico para recolher o lixo que for produzido. Casaco grosso, boné, óculos escuros (o reflexo contínuo do sol na areia pode levar à cegueira sem eles. Vaselina para proteger os lábios de rachaduras, lanterna, pilhas, espelho (para ser usado como sinalizador) e, principalmente, seu próprio papel higiênico.

Roupas: leves e de cor clara, de preferência brancas, para refletir mais o sol. Tênis ou botinhas de lona são mais recomendáveis. É bom lembrar que é impossível ficar só de sunga, por exemplo -meia hora é o suficiente para morrer com o corpo completamente desidratado.

Manual do turista
* Nunca andar sozinho: em caso de algum acidente ou mordida de animal venenoso é grande a probabilidade de não receber ajuda em tempo.
* Olhe por onde pisa: o deserto é repleto de pedras, e os espaços entre algumas rochas é preenchido com a fina areia trazida pelos ventos. Pisar em uma região dessas significa afundar rapidamente e nunca mais voltar à tona. Os tuaregues, quando caminham, estão sempre com os arreios de seu camelo nas mãos. Se ele cai em uma areia movediça, se agarra ao animal, que é treinado para puxá-lo para fora.
* Checar sempre: os calçados antes de devolvê-los aos pés. Vale também para casacos, bonés e jaquetas que forem deixadas no chão. Répteis como escorpiões e serpentes, quase sempre venenosos, procuram lugares para se manterem aquecidos à noite, quando as temperaturas se tornam negativas, e os objetos deixados no chão são a melhor pedida.

Sobrevivência requer cuidados especiais
Nos 15 dias de travessia do Saara, o maior deserto do mundo, junto com o comboio do rali Paris-Dacar em 1995, só consegui tomar dois banhos. Nossa ração diária de água se limitava a três garrafas de meio litro cada. Isso para lavar o rosto, as mãos, escovar os dentes e matar a sede.
As refeições eram racionadas e servidas em um tipo de bandejão. O cardápio quase sempre era o mesmo: um pedaço de pão, uma colher de cenoura ralada com maionese, uma fatia de salame e sopa. Emagreci três quilos.
Dormia poucas horas por noite em um saco de dormir no chão. A oscilação de temperatura é violenta. Durante o dia a média é de 50ºC. Quando o sol se põe, a temperatura cai rapidamente até atingir cerca de 5ºC negativos.
(ME)

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