São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997 |
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Banco Mundial faz projeto contra críticas de ONGs
FERNANDO ROSSETTI
O banco já fez 67 financiamentos ao Brasil desde 1949, totalizando US$ 9,5 bilhões, para "promover o desenvolvimento social e econômico e reduzir a miséria". Mas o chamado "ajuste estrutural", que acompanha esse tipo de empréstimo, tem sido severamente questionado por entidades da sociedade civil em todo o mundo. A reforma no sistema de ensino público brasileiro está sendo, se não dirigida, em muito influenciada pelas políticas do Banco Mundial, que divide o papel de "mentor" da reforma com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. A principal reclamação das entidades da área, como os sindicatos de professores ou de secretários municipais, é que essas reformas têm "atropelado" as escolas, onde há um conhecimento que deveria ser mais bem aproveitado. Cinquentenário A crise do Banco Mundial começou em 1994, com a campanha "50 Anos Bastam", realizada por mais de cem organizações não-governamentais (ONGs). Marcou o cinquentenário da instituição, buscando mais transparência e envolvimento social nas políticas. "O banco financia políticas públicas, mas essas políticas não estão sendo realmente públicas, estão, por exemplo, quebrando vários pequenos negócios em todo o mundo", disse à Folha Douglas Hellinger, fundador da Development GAP, a ONG que coordenou a campanha "50 Anos Bastam". Ele cita como exemplo de ONG com posições semelhantes o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), de Herbert de Souza, o Betinho. No ano passado, Betinho se retirou do Comunidade Solidária -um dos lados ditos "sociais" do governo FHC- criticando, entre outras coisas, as consequências socioeconômicas do ajuste estrutural brasileiro. Iniciativa A novidade é que agora o novo presidente do banco, James Wolfensohn, está disposto a mudar a imagem que o banco estabeleceu em seus 50 anos de atividade. Desde o ano passado, Wolfensohn está negociando com a Development GAP a criação da chamada Iniciativa de Revisão Participatória do Ajuste Estrutural. "Nosso objetivo é que os governos tenham mais flexibilidade para responder às demandas dos cidadãos em relação às políticas de desenvolvimento", diz Hellinger. Segundo o diretor do Departamento de Pesquisas de Políticas do banco, Lyn Squire, a iniciativa deve ser iniciada em julho em oito países. A idéia é "criar fóruns tripartites, que reúnam o banco, o governo e as organizações não-governamentais, para debater as políticas de desenvolvimento". Já estão incluídos Uganda, Zimbábue, Mali e Gana, na África, Bangladesh, na Ásia, e El Salvador e Equador, na América Latina. As Filipinas talvez façam parte. "O que falta é algum país grande, como o Brasil, assumir essa iniciativa", afirma Hellinger. (FR) Texto Anterior: Nota de mulher é menor Próximo Texto: O Banco Mundial no Brasil Índice |
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