São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Pitta dá manual de defesa a deputados

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao se reunir ontem com oito dos 12 deputados federais do PPB paulista, o prefeito de São Paulo, Celso Pitta, entregou em caráter sigiloso um manual com 11 pontos para serem usados em sua defesa na suspeita de seu envolvimento no caso dos precatórios.
O manual é feito em forma de questionário. Primeiro, vêm as perguntas sobre as supostas irregularidades; depois, vêm as respostas que o deputado deve dar para afastar as suspeitas sobre o envolvimento do prefeito.
Tudo é explicado didaticamente. O objetivo é evitar que o deputado fique sem resposta para qualquer pergunta sobre a participação de Pitta na operação de compra e venda de títulos. A maioria das respostas já é de conhecimento público.
Elas vêm sendo usadas por Pitta sempre que surge uma revelação nova sobre seu suposto envolvimento na irregularidade. É o caso, por exemplo, da resposta para o pagamento de um carro pelo Banco Vetor para a sua mulher, Nicéa.
No manual distribuído por Pitta, há referências à "cortesia" da Localiza, a locadora a quem pertencia o carro alugado pelo Vetor. O argumento dado aos deputados é o mesmo da nota distribuída no dia em que o caso foi revelado.
Pitta limita seu conhecimento no episódio a uma "cortesia" da Localiza. Nega que tivesse conhecimento do pagamento do faturamento da locação do carro em nome do Vetor, suspeito de ter montado a operação dos títulos com a prefeitura paulistana.
O prefeito se reuniu por mais de duas horas com os deputados. Durante a reunião, pediu para que eles não divulgassem o manual para a imprensa. O deputado Ricardo Izar ficou surpreso quando a Folha disse que conhecia o texto.
"Questão ética"
"Eu estranho que algum deputado tenha falado sobre isso", afirmou Izar. "Nós combinamos que isso não seria divulgado. É uma questão ética. Lamento que algum deputado tenha falado isso."
Ao saírem da reunião, os deputados traziam nas mãos uma pasta com papéis. Disseram que se tratavam de "documentos" que comprovariam a inocência do prefeito. Mas se recusaram a mostrar os documentos para os repórteres.
Mais tarde, a Folha ficou sabendo que, entre os documentos entregues pelo prefeito, estava o manual de orientação para os deputados responderem a indagações de colegas ou de repórteres sobre a participação de Pitta no caso.
Alguns dos itens do manual usam palavras duras para reforçar a defesa do prefeito. É o caso da resposta a ser dada a uma virtual pergunta sobre a emissão de lista irregular de títulos para pagamento de precatórios. "Mentira", diz.
Depois da palavra "mentira", segue-se uma lista de argumentos técnicos para os deputados explicarem a operação. Resposta semelhante refere-se à pergunta sobre o desvio de dinheiro de precatórios para pagar obras da prefeitura.
Mas os deputados também saíram do encontro com documentos em suas pastas. Um desses textos é a cópia da carta que Pitta enviou ao senador Bernardo Cabral (PFL-AM), presidente da CPI, pedindo para depor na comissão.
O prefeito também municiou os deputados com argumentos para reagirem a indagações sobre prejuízos da prefeitura com a venda dos títulos. Segundo Pitta, o lucro dos cofres municipais com essas operações foi de R$ 153 milhões.
Ao final da reunião, os deputados disseram que pedirão ao presidente da CPI que apresse a data do depoimento de Pitta na comissão.

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