São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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O jogo ideal...

JUCA KFOURI

Era mesmo o jogo ideal para iniciar o filho de seis anos nos encantos do futebol.
O domingo outonal estava radiante, o Morumbi é perto, o público seria mínimo, e o jogo, de uma torcida -a corintiana, que tem Felipe como seu jovem, mas não ainda batizado, integrante.
De mais a mais o Corinthians havia perdido dois jogos seguidos naquela semana e não perderia o terceiro -desejava, mais que acreditava, o pai de outros dois mosqueteiros e de Camila, princesa alvinegra.
Um deles, por sinal, André, o mais velho, houvera sido iniciado exatamente num Corinthians e Guarani, no mesmo Morumbi, num domingo de manhã, estréia do brilhante mineiro Palhinha, em 26 de março (!) de 1977, uma catástrofe, 3 a 0 para o Bugre.
Como o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, continuava a desejar o pai, desta vez daria Corinthians e ele não iria precisar explicar a Felipe o que contara a André -que aquele jogo não era bem de verdade, era mais uma festa para apresentar um novo jogador à torcida (e mesmo assim André andou um bom tempo insistindo em vestir uma camisa do Guarani, heresia que Daniel, mais moço, tratou de imitar).
Felipe, no entanto, titubeava. Dizia que estava a fim de ficar jogando Fifa Soccer no computador, para desencanto do pai, antes mais rigoroso com as coisas da religião.
Nem mesmo a presença de Daniel, ídolo maior, camisa alvinegra devidamente vestida para ir ao jogo, mudou a cabeça do pequeno.
E o pai e Felipe, que juntos haviam visto os 6 a 2 diante do São José (santo de preferência do pai) na TV, no domingo anterior e com a desculpa que era só para ver o irmão André na ESPN-Brasil, sentam-se outra vez diante do aparelho -mais o pai que o filho, preocupado com a "prorrogação" de um Brasil e Itália no micro.
Até os 3 a 1 foi muito bem, chegou a ir para o sofá, convencido de que, juntos, filho e pai davam sorte ao Timão.
Mas, no intervalo, resolveu descer e ir brincar para aproveitar o fim de tarde.
Ao voltar, ouviu que o pai estava frustrado porque ele não quisera ir a um jogo que acabara 8 a 2, histórico.
"Oito a dois?! Putz!", e foi tomar banho, preocupado em vencer mais uma imaginária competição de resistência embaixo d'água, na banheira.
Por sinal, Henrique não estava impedido no primeiro gol.

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