São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 1997
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Suspeito de irregularidade ligou para FHC e senadores

DANIEL BRAMATTI

DANIEL BRAMATTI; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dono da Boa Safra fez ligações para Gilberto Miranda

A quebra do sigilo telefônico do empresário Fausto Solano Pereira, dono da corretora Boa Safra, revelou a existência de uma ligação para o gabinete pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 3 de junho do ano passado.
A CPI dos Precatórios detectou ainda telefonemas para os gabinetes dos senadores Gilberto Miranda (PFL-AM), José Serra (PSDB-SP) e Onofre Quinan (PMDB-GO), além dos deputados federais Vadão Gomes (PPB-SP) e Celso Russomano (PSDB-SP).
Pereira está sendo investigado pela CPI por ter recebido um cheque de R$ 9,76 milhões da IBF Factoring, uma das empresas "laranjas" do esquema suspeito de emissão dos títulos públicos.
A duração do telefonema para o gabinete de FHC é de apenas um minuto. A ligação partiu da Boa Safra, no número 284-7643, em São Paulo. O número chamado foi o 211-1169, em Brasília.
No Palácio do Planalto, a Folha identificou na lista de telefonemas dados por Fausto Solano quatro números: o do gabinete pessoal de FHC (211-1169), dois do cerimonial da Presidência (211-1240 e 211-1051) e outro do setor de fotografia do Palácio do Planalto (211-1171).
Também partiu da Boa Safra uma ligação para o gabinete de Onofre Quinan. O senador não foi localizado ontem.
Os telefonemas para Miranda e Serra foram feitos do condomínio Royal Ibirapuera, segundo a lista da CPI. De acordo com a senadora Emília Fernandes (PTB-RS), a comissão tem informações indicando que Pereira mora no local.
O ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo Wagner Ramos e seu ex-assessor Pedro Neiva também possuíam apartamentos no mesmo condomínio.
Ambos trabalharam na montagem da operação das emissões de títulos de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina.
O senador Gilberto Miranda foi presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) quando os pedidos de emissão de títulos dos Estados e municípios tramitaram no Senado.
Renê
Durante seu depoimento à CPI, Fausto Solano Pereira disse que recebeu o cheque de R$ 9,76 milhões de um certo "senhor Renê", cuja identidade não conhece. Parte dos recursos foi repassada a terceiros por meio de 54 cheques.
O empresário disse que assinou os cheques por orientação do próprio Renê e que não conhece os destinatários do dinheiro.
A versão não convenceu os senadores, que consideram Pereira um dos elos mais importantes do esquema de fraudes. O empresário terá de prestar depoimento novamente para explicar a origem dos R$ 9,76 milhões.
A insistência se deve ao fato de que o valor repassado ao empresário é pouco inferior ao lucro obtido pela IBF na negociação dos títulos de Santa Catarina.
O rastreamento das ligações de Pereira também revelou diversos contatos com o governo catarinense na época das operações.

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