São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Depoimento reforça ação de empreiteiras

MARCIO AITH
ROGÉRIO GENTILE

MARCIO AITH; ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dono da construtora Coveg, ligada às prefeituras de SP e Guarulhos, prestou serviço a Wagner Ramos

As ligações do empresário Lesko Leslie de Araujo com as prefeituras de São Paulo e de Osasco representam hoje um dos indícios mais fortes da participação de empreiteiras no escândalo dos títulos públicos.
Dono e um dos principais executivos da Construtora Coveg, de São Paulo, Araujo teve seu nome citado nas investigações da CPI pelo funcionário da Câmara dos Deputados Hélio Machado Bastos Filho.
Em 26 de fevereiro passado, Bastos Filho disse à CPI ter conduzido ao aeroporto de Brasília, a pedido do amigo e empreiteiro de São Paulo Lesko Araujo, o ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo Wagner Baptista Ramos e o secretário da Fazenda de Osasco, Roberto Sanchez.
Dados obtidos pela Folha revelam que a Construtora Coveg, de Araujo, assinou -sozinha ou associada a outras empreiteiras- contratos que superam o valor de R$ 20 milhões com as prefeituras de São Paulo e Osasco.
Além disso, a empresa foi a principal financiadora da campanha do candidato Francisco Rossi, ex-prefeito de Osasco, ao governo do Estado em 1994. A Coveg doou R$ 176,8 mil.
Rossi foi o padrinho político do ex-prefeito Celso Giglio, que ocupou o cargo na época em que Osasco emitiu os títulos.
Wagner Ramos e Sanchez viajaram a Brasília, em 1996, para tratar da emissão de R$ 88 milhões em letras financeiras de Osasco, supostamente para pagar precatórios. Wagner disse ter assessorado o secretário Sanchez "a título de contribuição".
Com seu depoimento, Bastos Filho desmentiu o secretário da Fazenda de Osasco, que disse ter encontrado Wagner Ramos casualmente em Brasília.
Segundo Bastos Filho, Araujo o telefonou de São Paulo pedindo que conduzisse os dois ao gabinete do senador Lauro Campos, relator do projeto de emissão de títulos de Osasco, e depois os levassem ao aeroporto de Brasília.
Garagem subterrânea
Em novembro de 1995, a Coveg foi contratada pela Prefeitura de São Paulo para construir uma garagem subterrânea na praça da República, no centro. O custo da obra está estimado em R$ 17,89 milhões. A Coveg é a líder do Consórcio República, que ganhou a licitação e vai ter o direito de explorar o estacionamento por 30 anos.
A Coveg foi contratada também pela Prefeitura de São Paulo para fornecer concreto usinado, executar serviços de pavimentação de rua e fiscalizar a construção de uma obra viária.
No ano passado, a empresa recebeu da prefeitura paulistana cerca de R$ 1 milhão.
A prefeitura de Osasco deve pelo menos R$ 900 mil para a empresa, segundo depoimento feito no início do mês pelo secretário Sanchez na Câmara Municipal de Osasco.
A CPI dos Precatórios suspeita que empreiteiras tenham participado ativamente da autorização e emissão irregulares de títulos por Estados e municípios.
No caso de Osasco, o dado mais relevante é que o empreiteiro da Coveg não só sabia antecipadamente da viagem de Wagner Ramos e Sanchez a Brasília como também se dispôs a fornecer transporte para eles.
Segundo as investigações da CPI, empreiteiras poderiam estar interessadas na emissão de títulos para manter o ritmo de obras viárias e garantir o pagamento de dívidas de Estados e municípios.

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