São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Para Mosley, 'caso Senna' é inútil

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O inglês Max Mosley, 56, assistirá ao GP Brasil deste ano pela TV, em Londres.
Presidente da FIA (entidade que dirige a F-1), diz estar muito atarefado e que "infelizmente" não poderá comparecer aos próximos três GPs da temporada.
Filho de um dirigente fascista inglês, Mosley passou sua adolescência estudando em colégios da França e Alemanha. Voltou para a Inglaterra, onde formou-se em física e direito, em Oxford.
Há seis anos comanda a F-1. Diz ser mais discreto que seu antecessor, o francês Jean-Marie Balestre, e considera o julgamento pela morte de Ayrton Senna "uma perda de tempo".
(FSx)
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Folha - Como o senhor vê o julgamento pela morte de Ayrton Senna? O senhor acha que isso prejudica a imagem da FIA?
Mosley - Eu acho que é inútil, uma total perda de tempo, pois o que a Justiça está procurando saber é por que o carro saiu da pista, e essa não é a questão. A questão principal é por que o piloto morreu.
Normalmente, os carros batem, e os pilotos saem andando. O que não é normal é os pilotos saírem machucados. Imediatamente após o acidente, nós já sabíamos que o que matou o Senna foi o impacto da roda em sua cabeça (segundo investigação, o que matou Senna foi uma perfuração provocada pela barra de suspensão). Então, o que procuramos fazer foi criar uma maneira para que, na próxima vez, a roda não se soltasse e batesse na cabeça do piloto. Nós mudamos o regulamento.
É impossível impedir que os carros batam durante as corridas. Isso não nos interessa. O que nos interessa é impedir que os pilotos saiam machucados.
Folha - Qual o palpite do senhor sobre o resultado do julgamento?
Mosley - Os acusados serão absolvidos. Ninguém fez nada de errado. Foi um acidente. Muita gente bateu naquele local e saiu andando. O triste foi que o Senna bateu e não saiu andando. Ele teve azar.
Folha - Depois da morte de Senna, o interesse pela F-1 vem caindo no Brasil. O que fazer para reverter essa tendência?
Mosley - A única coisa que podemos fazer é pedir aos brasileiros para pilotarem mais rápido (dá uma risada)... Não há mais nada que possamos fazer. Em todo país é a mesma coisa, no Brasil, na Inglaterra, na Alemanha...
Quando há pilotos de um determinado país na ponta, as pessoas desse país se interessam mais pela F-1. É o que vem acontecendo com a Alemanha agora, que está com grandes audiências. Eles têm o Schumacher. Se o Senna estivesse vivo, haveria disputas maravilhosas, e provavelmente o Brasil inteiro assistiria.
Folha - É possível comparar a Alemanha atual com o Brasil de dez anos atrás?
Mosley - É o mesmo fenômeno. As pessoas ficam fascinadas quando seus pilotos estão entre os melhores do mundo.
Folha - Como está o relacionamento entre a FIA e a Cart?
Mosley - Nosso relacionamento é bom. Eu tenho conversado sempre com o Andrew Craig (presidente da Cart). Na verdade, organizamos dois tipos de corridas diferentes: em ovais e em circuitos mistos.
Quando um carro de Indy corre em um circuito misto, não é tão interessante, pois eles são relativamente pesados. Mas, quando eles estão em um oval, a corrida é extremamente interessante. Carros de F-1 são melhores em circuitos mistos e carros de Indy são melhores em ovais.
Folha - O que o senhor acha dos planos da Cart de promover provas no Japão, no ano que vem, e na Alemanha, em 99?
Mosley - Eu fico feliz em que eles promovam essas corridas, pois em ambos os casos tratam-se de circuitos ovais. No Japão, eu acho que a Cart tem uma grande chance de fazer uma prova. Na Alemanha, eu não tenho tanta certeza.
Folha - Em que direções o senhor pretende expandir a F-1? Como estão as negociações para uma prova na Malásia?
Mosley - Eu acho que veremos uma prova na Malásia em 98 ou 99. Também há boas chances de fazermos uma prova na China até o fim do século. Nós ainda temos muitas corridas na Europa e, na Ásia, ainda não nos fixamos o suficiente.
Folha - Além da Ásia, vocês têm planos para outros países? Por que não voltar a fazer uma prova nos Estados Unidos?
Mosley - O problema dos Estados Unidos é que eles não têm um circuito em condições de receber uma prova de F-1. Os boxes, as pistas... Eles não se adequam aos padrões da FIA. Seria muito bom voltar a realizar prova por lá, mas eles ainda não têm condições para isso.
Folha - Quanto dinheiro a F-1 envolve a cada ano? Quem são os maiores investidores na categoria?
Mosley - É um pouco acima de US$ 1 bilhão por ano. A maior parte dos investimento vem das fábricas de motores. Renault, Peugeot, Mercedes, Yamanha, Ford são as investidoras número um. Depois, vêm os anunciantes.
Folha - O que a FIA pretende fazer para tornar a F-1 mais competitiva?
Mosley - A gente nunca vai conseguir equiparar as equipes pequenas aos times de ponta. Não é como na Indy, onde as equipes compram um carro Lola ou Reynard. Na F-1, você tem que fazer seu próprio carro. Então, a F-1 é diferente, tem um nível tecnológico diferente. Mas nunca fomos tão competitivos. Hoje, temos 14 times em condições de vencer. Na década de 50, havia dois times, no máximo, com condições de ganhar uma prova.
Folha - A Foca anunciou que colocará ações da F-1 nas bolsas de valores de Londres e Nova York. Como vai funcionar?
Mosley - Quem trata disso é o Bernie Ecclestone, que tem alguns direitos comerciais sobre algumas coisas na F-1. Ele construiu seu negócio assim e agora decidiu vender parte desse negócio nas bolsas de valores. As pessoas poderão comprar ações da F-1 assim como fazem com qualquer outra companhia. A Foca garante que vai ser algo muito rentável.
Folha - O senhor estará no GP Brasil?
Max Mosley - Infelizmente não. Tenho muitas coisas para fazer por aqui. Este ano, perderei as três primeiras corridas, talvez quatro. Vou assistir pela TV.
Folha - O que o senhor espera para a prova em Interlagos?
Mosley - Acho que vai ser interessante, pois o que aconteceu na Austrália não foi exatamente o que as pessoas estavam esperando. Podem acontecer mais surpresas no Brasil, especialmente se chover.
Folha - Como o senhor vê as condições de segurança da pista de Interlagos?
Mosley - Eu não vou a esse circuito há algum tempo, mas ele passou por nossas rigorosas normas de segurança e isso me faz pensar está muito bom. O circuito foi vistoriado recentemente.
Folha - O seu antecessor, o francês Jean Marie Balestre, ficou muito conhecido no Brasil por causa das discussões com Ayrton Senna e seu estilo polêmico. Qual é o estilo do senhor?
Mosley - Eu sou mais quieto que o Balestre. Quando tenho algo a dizer, procuro fazê-lo discretamente.

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