São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Adolescentes engravidam com 1º parceiro

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria das adolescentes que abortam ou têm filhos engravida nas primeiras relações e com o primeiro parceiro sexual.
Menos de 20% usam algum método contraceptivo. Entre as que abortam, a maioria -79% delas- diz ter usado o medicamento Citotec.
Os dados aparecem em estudo com cerca de 600 adolescentes atendidas na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, da Universidade Federal do Ceará.
Metade delas estava fazendo o pré-natal. Outra metade procurou o hospital em decorrência do aborto, provocado ou espontâneo.
A pesquisa é coordenada pela médica Zenilda Vieira Bruno e tem apoio do Projeto Estudos da Mulher (PEM) -ONG ligada à Associação Saúde da Família. Os dados foram divulgados ontem em São Paulo em reunião anual da PEM.
A intenção da pesquisa -que prossegue ainda por 18 meses- é saber como a gravidez interfere na vida das adolescentes que abortaram ou tiveram filhos.
O estudo responderá, por exemplo, se aquela adolescente que tentou abortar pensará da mesma forma depois que tiver o filho.
Uma das constatações da pesquisa é que a gravidez é sempre inesperada. A grande maioria das meninas disse que gostaria de ter adiado esse momento.
Um quarto das que faziam pré-natal disse que pensou em abortar. Nos dois grupos, cerca de 50% foram aconselhadas a fazer aborto por amigas ou pela mãe.
Entre as que estavam grávidas, 40% tinham irmãs que tiveram filhos ou abortaram quando adolescentes.
No grupo das garotas que abortaram, 49% tinham irmãs que engravidaram antes dos 18 anos.
Cerca de 50% das meninas tinham interrompido os estudos quando foram entrevistadas. Entre as que abortaram, 27% alegaram que precisavam trabalhar. Entre as grávidas, 40% disseram que deixaram os estudos por causa do casamento ou da gravidez.
Segundo Zenilda Bruno, as adolescentes que provocaram o aborto com Citotec (79% do total) tiveram menos complicações que aquelas que usaram métodos como injeções ou agulha de crochê.
O Citotec é indicado para úlcera gástrica e sua venda exige receituário médico controlado. Por essa razão, o remédio é comprado no mercado negro das farmácias por cerca de R$ 50,00 o comprimido.
Eleonora Menicucci de Oliveira, do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Saúde da Mulher da Universidade Federal de São Paulo, diz que o Citotec vem reduzindo muito as mortes decorrentes de abortos.
No Brasil, entre 10 mil e 15 mil mulheres morrem por ano em decorrência do aborto.

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