São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Parceiros recebem mal a restrição à importação

DE NOVA YORK; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL; DE BUENOS AIRES

A decisão do governo brasileiro de restringir o financiamento às importações foi mal recebida por parceiros comerciais.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Comércio manifestou preocupação. "É uma medida que deve ser mais bem avaliada, mas com certeza não serve para aproximar os dois países", constatou Bill Spitler, subdiretor do Escritório Administrativo de Comércio em White Plains, Nova York.
"O momento deveria ser de aproximação, principalmente quando estamos perto da reunião da Alca", afirmou, referindo-se à discussão sobre a Área de Livre Comércio das Américas.
Em maio, Belo Horizonte (MG) abrigará encontro de representantes dos 34 países das Américas que farão parte da Alca.
Herbert Austin, do Centro de Assistência ao Departamento de Comércio, tentou contemporizar. "A medida mostra a preocupação do governo brasileiro com o déficit público. Mas não é só restringindo as importações que você controla o déficit", lembrou, insinuando que o Brasil poderia ter optado por mudanças cambiais.
O Brazilian Government Trade Bureau, braço comercial do Itamarati em Nova York, só deverá se manifestar sobre a questão na segunda-feira. A Câmara de Comércio Brasil-EUA também não quis tecer comentários a respeito.
Argentina
Na Argentina, o governo do país exigiu que o Brasil continue importando os produtos made in Mercosul com financiamento na hora da compra e sem as restrições anunciadas anteontem.
O governo argentino quer um tratamento diferenciado. Isso foi apresentado ontem às autoridades brasileiras pela Chancelaria e Ministério da Economia argentinos.
O governo do país também se queixou de que o Brasil não consultou seu maior sócio dentro do Mercosul antes da medida.
"O Brasil é soberano para restringir o financiamento das importações do resto do mundo, mas elas não devem ser aplicadas para os sócios do Mercosul", afirmou Alejandro Mayoral, subsecretário de Comércio Exterior.
A decisão brasileira também repercutiu no Congresso argentino. O deputado Humberto Roggero, presidente da Comissão de Indústria da Câmara, pediu um protesto oficial de seu governo. "A medida parece de longo prazo, o que nos prejudica muito."
Em Brasília, o embaixador argentino no Brasil, Diego Guellar, apresentou protesto da Argentina ao secretário-geral do Itamaraty, embaixador Sebastião do Rego Barros. Recebeu como resposta que técnicos do governo estudam a forma legal de abrir essas exceções, sem menção a prazo.
Celeuma
O vice-presidente da Adebim (Associação das Empresas Brasileiras para a Integração do Mercosul), Michel Alaby, disse que argentinos e uruguaios poderão reagir negativamente frente aos obstáculos criados pela medida.
"A grande briga é esta. Atingiu o Mercosul", disse ele, lembrando que as relações comerciais principalmente com a Argentina já vinham num processo de celeuma.
Para Alaby, a medida do governo "foi casuística, porém inteligente" no sentido de controlar as pressões sobre a balança comercial. Além do problema específico do Mercosul, ele destacou outras consequências da decisão:
1) maior demanda por crédito interno, porque nem todas as empresas importadoras terão dinheiro para depositar no banco e fechar o câmbio no desembarque da mercadoria;
2) esse custo financeiro adicional deverá ser repassado pelo importador para o preço do produto a ser comercializado dentro do país; nesse aspecto, até empresas exportadoras que importam matérias-primas poderão ser afetadas;
3) a oferta de mercadorias importadas, principalmente de bens de consumo, deve cair.
Alaby também citou o fato de as circulares do Banco Central não preverem se o importador que teve sua compra financiada lá fora será remunerado pelo dinheiro que ficará depositado no banco até a remessa para o exterior.

Colaboraram a Sucursal de Brasília, a Reportagem Local e o correspondente em Buenos Aires

LEIA MAIS sobre mudanças nas importações à pág. 2-6

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