São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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Filme tem efeitos especiais e obviedades

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Houvesse um oitavo círculo no inferno de Dante (o Alighieri) e ele possivelmente seria dedicado a realizadores de produtos culturais chatos, obrigados a consumir pela eternidade as obras que perpetraram.
"O Inferno de Dante" (o vulcão) faz parte de uma série de filmes a que se convencionou atribuir um ressurgimento do cinema-catástrofe.
Em seus congêneres da década de 70, a trama em geral girava em torno de um grupo de pessoas que, confrontada com uma hecatombe natural qualquer (terremotos, incêndios, naufrágios ou até chuva de meteoros), tentava se safar.
O sucesso do filme dependia da capacidade de criar tensão na audiência.
Como seus diretores não eram nenhum Hitchcock, apoiavam-se em dois recursos básicos: os efeitos especiais deveriam ser bombásticos e realistas, e uma forte identificação deveria ser criada entre espectador e protagonistas.
É óbvio que a técnica de efeitos especiais evoluiu muito em duas décadas. A primeira parte da fórmula, portanto, notadamente em um filme de grande orçamento como "O Inferno de Dante", está de saída garantida.
O restante da técnica cinematográfica parece ter involuído, porém. Fora as belas cenas de erupção, tudo o mais (roteiro, decupagem, construção dos personagens) é óbvio, ou simplesmente mal realizado.
Pierce Brosnan é o geólogo convocado à cidadezinha de Dante's Peak para averiguar as chances de erupção do vulcão homônimo. Sua intuição alarmista o leva a confirmar a tragédia. A ele se opõem autoridades locais e as preocupações políticas de seu chefe.
Só é convencida a bela prefeita local (Linda Hamilton), mais impressionada com o charme de Brosnan (que parece uma caricatura da caricatura que interpreta em "Marte Ataca") do que com seus parcos argumentos tectônicos.
Os drama pessoais de um e outra são tediosos, como é tedioso seu previsível romance. A identificação com os personagens nunca se logra. E a platéia se sente tentada a torcer para que Dante faça logo arder essa chatice.

Filme: O Inferno de Dante
Produção: EUA, 1996
Direção: Roger Donaldson
Com: Pierce Brosnan, Linda Hamilton
Quando: a partir de hoje nos cines Olido 1, Morumbi 3, Gemini 2 e circuito

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