São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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MIS exibirá fotos inéditas de Villa-Lobos

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é ainda objeto de muitos mistérios. O pianista e compositor José Carlos Amaral Vieira e o violonista Ricardo Simões têm ajudado a desvendar alguns deles.
No ano passado, Simões gravou pelo selo Paulus uma partitura -"Valsa-Concerto nº 2"- localizada por Amaral Vieira e até então considerada perdida.
Ambos agora preparam um concerto e uma exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som), com audição da mesma valsa e a exibição de cerca de 40 fotografias inéditas sobre Villa-Lobos.
As fotos já constituiriam um capítulo à parte em qualquer biografia definitiva que ainda não foi escrita sobre aquele compositor.
Ele aparece, por exemplo, em Los Angeles, em 1958, ao lado do ator Anthony Perkins, que participara de um filme hoje praticamente esquecido, "Green Mansions" ("A Flor que Não Morreu"). Villa fez a trilha sonora.
Em algumas das fotos, há o Villa-Lobos de sorriso largo, charuto aceso entre os dedos ou nos lábios, tal qual apareceria se tivesse um dia posado para uma foto oficial.
Em outras, aparece regendo em Paris ou Estocolmo, ao lado de sua segunda mulher, Arminda Villa-Lobos, a Mindinha, a quem enche de afeto sob a forma de longas dedicatórias. Ou, ainda, visivelmente enfadado, ao lado do pianista Artur Rubinstein, em local e circunstâncias desconhecidos.
Amaral Vieira conta como as fotografias chegaram a suas mãos.
Frequentador de sebos e antiquários, foi avisado, no ano passado, que um fornecedor anônimo do Rio remetera, para serem vendidos em São Paulo, fotos, documentos e partituras de Villa.
"Como o vendedor quis permanecer anônimo, é provável que se tratava de alguém que há muitos anos estava com tudo aquilo como empréstimo, o que ocorria com frequência, porque o compositor morreu sem deixar filhos."
Há parcelas ainda não tornadas públicas de um imenso tesouro de suas composições.
O terceiro e mais completo catálogo das obras de Heitor Villa-Lobos, compilado em 1989 pelo museu que leva o seu nome, traz pouco mais de mil entradas, um terço delas com a menção de que se trata de peça extraviada ou perdida.
Outra tese, defendida pelo maestro Souza Lima, um dos contemporâneos do compositor, é a de que muitas das idéias hoje catalogadas como perdidas ou extraviadas não chegaram a ser transcritas em pentagrama.
Foi de qualquer modo nesse primeiro pacote de um antiquário que, além das fotografias, foi encontrada a valsa gravada por Ricardo Simões. Trata-se de uma composição de 1904, quando seu autor tinha 17 anos.
Amaral Vieira diz não ter a intenção de manter o que quer que seja sob sua guarda, para que a exclusividade alimente um suposto envaidecimento. Mesmo se, diz ele, isso seja hoje comum.
Cita o caso de um projeto que pessoalmente iniciou em 1979, da gravação integral de todas as peças para piano do compositor Franz Lizst (1811-1886).
"Um colecionador possui partituras inéditas, que não mostra a ninguém e não deixa tirar xerox."
No caso de Villa-Lobos, ele redigiu testamento em que destinou metade de seus direitos autorais póstumos à Academia Brasileira de Música. Esses direitos eram coletados, quando se tratava de uma obra já publicada, por seu editor em Paris, Max Eschige. A editora faliu, e o acervo passou para a editora alemã Schott.
Ricardo Simões, um jazzista de formação erudita, produtor do recital no MIS que marcará a abertura da exposição, diz que não será ainda desta vez que serão expostos os autógrafos e documentos localizados por Amaral Vieira.
"Há peças muito valiosas, que precisariam ser colocadas dentro de uma redoma de vidro", diz.

Concerto: "Syncronycydade", com exposição de fotos de Villa-Lobos
Intérpretes: Nilze Kruse e Celeste Patarra (piano), Luciana Porta (dança) e Ricardo Simões (violão)
Onde: MIS (av. Europa, 158, Jardins, tel. 011/852-9197)
Quando: 30 de abril, às 20h
Quanto: entrada franca

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