São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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VITÓRIA DO BOM SENSO

Finalmente, o governo agiu numa área das mais sensíveis para a credibilidade do real, o déficit comercial.
Mais, tomou a decisão num momento em que autoridades da estatura de Gustavo Franco, diretor do Banco Central, assumiam um discurso contrário a todas as evidências e opiniões técnicas, alardeando que "déficit é bom" ou que se pode conviver, sem maiores problemas, com expectativas de US$ 15 bilhões de saldo negativo neste ano.
As medidas anunciadas dificultam as importações financiadas com recursos de curto prazo. Mas, se a decisão mostra responsabilidade, há dúvidas sobre o alcance dessas restrições financeiras e burocráticas.
O governo tornou mais caras as importações. É, portanto, um choque de custos na economia. Produtos importados ficam mais caros, com exceções monitoradas pelo governo.
Como o Brasil aumentou nos últimos anos a importação de bens de consumo e também a de insumos produtivos, deve haver um impacto sobre os custos de produção.
Aliás, o próprio secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, admitiu o impacto inflacionário. Resta saber se haverá ou não condições de que sistema econômico absorva o choque.
Se a economia crescer 5% ao ano, como quer o ministro Kandir, será maior a possibilidade de repasse do choque de custos ao longo das cadeias produtivas e mesmo para consumidores. Se houver crédito, os custos poderão até ser diluídos ao longo do tempo. O choque inflacionário seria passageiro, mas as importações poderiam voltar a subir ou cair menos do que se espera.
O nó da política econômica é calibrar o crescimento econômico e torná-lo compatível com a abertura da economia e com a política cambial.
A restrição ao financiamento de importações é um sinal de que há problemas. Mas pode ser um instrumento marginal, enquanto se adia a decisão sobre restringir o crescimento para salvar a âncora cambial.

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