São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
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MANOBRA FURA-FILA

São vários os indícios de que o ex-prefeito Paulo Maluf e seu então secretário de Finanças, o atual prefeito Celso Pitta, podem estar envolvidos no escândalo dos precatórios.
Em entrevista ontem à Folha, o pianista João Carlos Martins, dono da empresa Paubrasil, responsável pela arrecadação de US$ 19 milhões para as campanhas eleitorais de Maluf em 90 e 92, sugeriu que Pitta seria apenas "um laranja de Maluf".
Embora genérica e carente de provas, a declaração de Martins soma-se ao sentimento de desconfiança já criado em relação a Pitta e Maluf.
Diante desse quadro de dúvidas e especulações, só há uma saída capaz de atender ao interesse coletivo: aprofundar as investigações.
O que faz, no entanto, a bancada governista na Câmara Municipal de São Paulo? Age contra o bem público ao fazer com que o jogo partidário, ainda que legítimo numa democracia, sirva como pretexto para que não se investigue a fundo a verdade.
Na semana passada, foi a vez da votação que derrotou o pedido de instalação de uma CPI na Câmara Municipal. Agora, a tentativa de preservar Pitta e Maluf reaparece na decisão de aprovar, de afogadilho e numa jogada de marketing, o projeto símbolo da campanha pepebista: o fura-fila.
É inaceitável que um projeto dessas proporções, que altera a estrutura viária da cidade, seja instrumentalizado como arma política.
Projetos desse porte, envolvendo soma elevada de recursos, deveriam ser submetidos a audiências públicas para que a sociedade civil, por meio das entidades organizadas, possa discuti-lo. A bancada governista pretende deixar de lado esse debate.
A se confirmar na próxima semana o panorama que se desenha, os vereadores governistas terão prestado um duplo desserviço ao público: depois de barrar a investigação sobre Pitta e Maluf em São Paulo, empenham-se agora em fazer a propaganda do prefeito, tentando, ademais, aprovar de maneira pouco democrática o polêmico projeto do fura-fila.

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