São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sul do Pará tem invasões sem ideologia

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURILÂNDIA DO NORTE (PA)

A inexistência do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no sul do Pará faz com que as invasões de fazendas na região sejam marcadas por improviso e falta de ideologia política.
Em Ourilândia do Norte (1020 km ao sul de Belém) onde, só neste ano, três sem-terra foram mortos em conflito, os invasores são menos organizados, não armam barracos e não levam as famílias para as invasões.
A maioria deles faz "bicos" como diaristas em fazendas ou madeireiras e moram em casas humildes nas cidades próximas. Eles invadem a área; marcam lotes e plantam. Só quando a terra já está produzindo levam as famílias.
Era os caso dos três mortos a tiros no conflito de Ourilândia. Todos eles trabalhavam na roça e suas mulheres, na cidade. Uma delas é servente no fórum, outra é empregada doméstica e a outra é professora primária em uma escola estadual na cidade.
Formação política
Os invasores na região têm pouca formação política. Em sua maioria, não têm ligação com partidos políticos nem com os sindicatos de trabalhadores locais.
A rotatividade nas áreas é muito grande. Eles não se fixam nas invasões. Segundo o Incra, em média, 60% dos invasores iniciais vendem o lote invadido a novos donos. Ainda segundo o Incra, esses novos donos é que ficam.
Os líderes dessas chamadas invasões independentes são escolhidos após a terra estar ocupada. Apenas coordenam reuniões e são porta-vozes junto ao Incra.
Em comum com as invasões do MST há a pobreza dos invasores, cujas rendas familiares não passam de um salário mínino e os constantes conflitos com pistoleiros, fazendeiros, polícia e até outros invasores.
Um exemplo desse tipo de ocupação é a fazenda Campos Altos, em Ourilândia, de de 8.711 hectares. A Campos Altos foi invadida em abril de 96, época do massacre de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás, e é disputada por trabalhadores e pelo fazendeiro do Maranhão Dimas Luis Silva.
Segundo José Ribamar da Silva, 34, um dos primeiros invasores, em três dias havia 150 pessoas cortando mata e abrindo picadas. Não há uma vila comum com barracos.
Cada posseiro (na região, eles não são chamados de sem-terra para diferenciá-los dos militantes do MST) demarca um lote de 50 hectares e faz isoladamente sua roça e seu barraco. Reúnem-se sem periodicidade para discutir suas reivindicações.
A ocupação nasce com boatos na cidade sobre uma área tida como improdutiva ou com documentação irregular. Grupos isolados e pequenos vão entrando. E à medida em que vão ficando, novos invasores entram para ver a situação e acabam ficando.
Era essa, segundo as viúvas, a intenção dos três trabalhadores que morreram na fazenda Santa Clara, em Ourilândia. Eles ouviram falar que havia invasão e foram verificar. Acabaram mortos por seguranças do imóvel.

Texto Anterior: Tuma quer bloqueio de bens de suspeitos
Próximo Texto: Pioneiro da Campos Altos é diarista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.