São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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Para Maluf, CPI quer tirar foco de bancos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA AGÊNCIA FOLHA

O assessor de imprensa de Paulo Maluf (PPB), Adilson Laranjeira, disse ontem que o ex-prefeito nunca tratou de assuntos administrativos com o ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo Wagner Baptista Ramos.
Ainda segundo Laranjeira, Maluf avalia que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Precatórios procura, ao divulgar essa informação, desviar a atenção do envolvimento dos bancos com as irregularidades nas negociações de títulos públicos.
"O Maluf pode ter se encontrado algumas vezes com o Wagner em cerimônias, mas nunca despachou com ele. Assuntos da Secretaria de Finanças, ele só discutia com Celso Pitta", disse Laranjeira.
O assessor negou ainda que Maluf tenha feito pagamento de despesas pessoais de Ramos. Segundo ele, o ex-prefeito não pagou nem transplante de rim nem colocou à disposição de Ramos um jatinho.
Em encontro sigiloso com membros da CPI, Fábio Nahoum, do Banco Vetor, disse que Wagner Ramos se vangloriava de despachar com o então prefeito Maluf.
Nahoum disse aos senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e José Serra (PSDB-SP) que o ex-coordenador da Dívida Pública teria comentado que Maluf pagou seu transplante de rim, além de colocar à sua disposição um jatinho quando um irmão morreu fora do Estado de São Paulo.
O teor da conversa sigilosa de Nahoum foi divulgado ontem pelo colunista da Folha Luís Nassif.
O depoimento do sócio do Banco Vetor, na avaliação de Maluf, é uma manobra para desviar o rumo das investigações da CPI.
"Estão querendo desviar as investigações do sistema financeiro. Além disso, é muito estranho que a CPI faça uma reunião secreta e depois vaze as informações para a imprensa", disse Laranjeira.
O ex-prefeito está em férias no exterior desde o dia 5 de março. Ele passou os primeiros dias de descanso em Paris. Depois, seguiu para o Oriente Médio. Maluf deve voltar a Paris na próxima semana.
Depoimento
O senador Esperidião Amin (PPB-SC) afirmou ontem que vai pedir a reinquirição de Nahoum.
Amin, que estava em Florianópolis, disse que o banqueiro precisa esclarecer, em um novo depoimento, "as informações privilegiadas" que deu aos senadores Roberto Requião e José Serra de modo "informal".
Amin declarou que outro motivo que justifica a reinquirição do proprietário do Vetor é a descoberta de uma "coleção" de telefonemas dados pelo banco aos gabinetes de governadores e secretários da Fazenda, ao Palácio do Planalto, Ministério das Relações Exteriores, Banco Central e fundos de estatais.
Para o senador, o esclarecimento sobre o conteúdo desses telefonemas "é mais relevante no momento" que a suposta ligação direta entre Maluf e Ramos.
"Nahoum já mentiu em algumas oportunidades. Suas declarações no encontro secreto com Requião e Serra na quarta-feira em Brasília têm de ser vistas com muita reserva, mas, de qualquer forma, conferidas."
O senador declarou que deve ser dado "valor relativo" às afirmações de Nahoum, pois já ficou demonstrado, segundo ele, que o dono do Vetor praticou "corrupção ativa" no caso dos precatórios.
Amin disse também que a reinquirição de Nahoum pode ser acompanhada de uma acareação entre o banqueiro e Ramos.

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