São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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Restrição à importação pode elevar preços

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo que obriga o pagamento à vista das importações -que eram financiadas em até um ano- deve propiciar aumento de preços dos produtos nos supermercados e não, necessariamente, queda acentuada nas compras externas -que é o objetivo pretendido.
Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo), diz que uma opção para os supermercadistas é optar pela continuidade da importação e cobrar mais pelos produtos.
Outra seria a diminuição ou paralisação das importações, o que, na sua análise, também pode desencadear reajustes de preços por conta da falta de concorrência com mercadoria importada.
A rede de supermercados Sé, que tem de 5% a 7% do faturamento representado pelos importados, informa que vai continuar trabalhando com mercadoria estrangeira e que essa decisão pode abalar o fluxo de caixa da empresa.
Laura Carrer da Silveira, gerente de comércio exterior do Sé, conta que a empresa tem prazo de até 90 dias para pagar pelas mercadorias importadas. "Não vamos cortar as compras. Por isso vai sobrar menos dinheiro."
A Casa Santa Luzia informa que também não pretende reduzir a oferta de importados -que representam 50% do seu faturamento.
Jorge da Conceição Lopes, sócio-diretor, diz que a sua loja paga à vista 90% das mercadorias importadas, por isso a medida do governo tem pouco impacto na sua empresa.
Regulador de preços
Atualmente, só 3% das vendas dos supermercados é representada por produtos estrangeiros.
A medida do governo deve contribuir para a redução da oferta de importados, na análise de Paulo Afonso Feijó, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
Os importados, na opinião de Tanaka, contribuem para regular os preços no mercado interno. Ele cita, por exemplo, o azeite espanhol Carbonell que, nos últimos 60 dias, chegou a ser comercializado com preço 2% a 3% mais baixo do que o de mercado, em razão da concorrência.
O bacalhau, continua ele, que tem venda forte nesta época do ano, foi praticamente todo importado para ser pago no prazo de 180 dias, em média. "O quilo custa de R$ 6 a R$ 30, mas custaria bem mais se tivesse sido pago à vista."
Tanaka acredita que pode haver redução na importação à medida que o preço sobe e o consumo cai.
"É que o produto importado pode deixar de ser atrativo", completa Feijó.
Omar Assaf, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados), arrisca a dizer que a participação dos importados no faturamento dos supermercados deve cair para 2% a 2,5%.
Para Assaf, o erro do governo foi deixar de elaborar uma lista de exceções. Na sua análise, os produtos que não têm similar nacional deveriam ficar de fora das medidas.
Ele diz que os supermercadistas importam para pagar com prazos que variam de 30 a 180 dias. "O empresariado não vai ter caixa para financiar a importação."
A diretoria do Mappin, no qual as importações diretas representam 2% do faturamento, informa que vai reavaliar a importação.
A empresa também acredita que as medidas para restringir as importações devem provocar aumento de preços.
O Carrefour informa, por meio da sua assessoria de imprensa, que está avaliando o efeito das novas medidas sobre a importação que é feita pela empresa.

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