São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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Joe Lovano celebra Frank Sinatra em CD

CARLOS BOZZO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O saxofonista norte-americano Joe Lovano, 45, considerado pela revista de jazz "Down Beat" o melhor músico de 1996, lança no Brasil, no mês de abril, seu mais recente álbum, "Celebrating Sinatra".
O CD traz releitura de 13 das músicas imortalizadas pela voz do cantor ítalo-americano, como "Chicago", "All The Way" e "In Other Words", embaladas por uma pequena orquestra de sopros e cordas.
Tem ainda a participação do baterista Al Foster (que já tocou com Miles Davis), arranjos de Manny Albam e vocal de Judi Silvano, mulher de Lovano.
"Celebrating" foi gravado em junho de 1996, ano em que saiu nos EUA, e é considerado a consagração de Lovano, que já foi do quarteto de John Scofield e tem em sua carreira várias indicações ao Grammy.
Leia a seguir trechos da entrevista que Lovano concedeu à Folha, de Londres, na última quinta-feira, por telefone.
*
Folha - Como o senhor descobriu a música?
Joe Lovano - Bem, meu pai tocava saxofone. Eu costumava ouvi-lo estudando, e foi assim que me envolvi com música. Comecei a tocar saxofone para imitá-lo.
Folha - Quando o senhor decidiu estudar na Berklee, em Boston?
Lovano -Ainda na escola, eu estava muito envolvido com jazz, fazendo várias apresentações. Eu tinha alguns amigos que estavam indo para Boston nesta época, e foi então que soube sobre a Berklee School of Music. Decidi ir para lá, para estudar mais música.
Uma das coisas que eu também percebi nessa época, era que eu tocava com um estilo muito parecido ao de meu pai. Sabia que precisava mudar isso, estudar outras coisas. Então, fui para Berklee.
Folha - Alguns dos melhores músicos da atualidade estavam passando pela Berklee no começo dos anos 60. Quem o senhor se lembra de ter encontrado por lá?
Lovano - Os primeiros "cats" (gíria para designar músico de jazz) que eu encontrei foram uns caras do Brasil: o trompetista Cláudio Roditi e o saxofonista Victor Assis Brasil. Imediatamente me tornei amigo deles e comecei a tocar com Cláudio e outros músicos brasileiros. Foram muito importantes.
E também encontrei George Garzone, um ótimo saxofonista, Bill Frisell, Billy Drewes, Ken Werner e muitos outros. Foi nessa época que conheci e comecei a tocar com John Scofield.
No começo dos anos 70 foi muito importante estar em Boston. Foi lá que vi, pela primeira vez, Miles Davis com a banda que tinha Jack DeJohnette na bateria, o trio de Bill Evans, o quarteto de Keith Jarret.
Folha - Na sua opinião, qual é a melhor forma de aprender jazz? A escola é realmente necessária?
Lovano - Acho que a escola é boa para se encontrar pessoas. Mas penso como músico: você deve ensinar a si mesmo como tocar.
Folha - Qual foi o melhor conselho que seu pai lhe deu, em suas primeiras lições?
Lovano - Ele disse que eu deveria respeitar meu tempo e desenvolver as idéias a partir do material que eu tivesse ao meu alcance para tocar. Mas uma coisa muito importante que ele me ensinou foi ouvir e estudar todos os instrumentos, assim como perceber a diferença entre músicos que tocavam os mesmos instrumentos.
Folha - O senhor acha que Bill Clinton é um bom saxofonista?
Lovano - Sim, ele sabe muitas coisas de Stan Getz, Sonny Rollins, Joe Henderson... Provavelmente, quando era jovem, deve ter tentado tocar saxofone, mas acho que ele tocou mais em fanfarras.
Folha - O que o senhor sabe sobre música brasileira?
Lovano - Por tocar com alguns brasileiros em Nova York, ouvi algumas coisas, que achei muito emocionantes e bonitas. Para mim, algumas músicas brasileiras antigas são como as músicas de Duke Ellington, têm o mesmo sentimento de suas músicas dos anos 30 ou 40. Gosto muito.
Tive a oportunidade de encontrar várias vezes com Hermeto Pascoal. Ele exerce muita influência sobre mim. Também gosto muito da música de Jobim. São clássicos no mundo da música.
Folha - O senhor já esteve no Brasil?
Lovano - Estive apenas uma vez para tocar em Maceió, há dois anos, em um festival.
Folha - E como foi?
Lovano - Eu gostei muito, foi uma viagem formidável, mas muito curta. Fiz apenas uma apresentação. Quero muito tocar no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Folha - Qual é sua opinião sobre "Celebration Sinatra"?
Lovano - Não sei, foi um trabalho muito expressivo que fizemos. Espero que as pessoas gostem.

Disco: Celebrating Sinatra
Artista: Joe Lovano
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 20, em média

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