São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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Sociedade deve discutir clonagem

DA REPORTAGEM LOCAL

A sociedade será capaz de determinar até onde a ciência poderá chegar com a clonagem. Essa é uma das conclusões do debate "Ética e Ciência: A Clonagem de Seres Vivos", promovido pela Folha na segunda-feira.
Participaram do evento Volnei Garrafa, professor-titular e coordenador do grupo de estudos e pesquisas em bioética da Universidade de Brasília, Leo Pessini, coordenador nacional da Pastoral da Saúde da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Walter Ceneviva, advogado e articulista da Folha. O debate foi mediado por Rogério Cezar de Cerqueira Leite, do Conselho Editorial da Folha.
Para Garrafa, o "caso Dolly" teve repercussão desproporcional. Lembrou ainda que a clonagem vem sendo feita há anos e pode trazer benefícios à humanidade. O pesquisador, no entanto, considera que "o ideal da raça humana é a diversidade. O homem não pode entrar no controle de qualidade".
Pessini frisou que o debate ético sobre a clonagem de seres vivos deve centrar-se na forma como o conhecimento científico vai ser utilizado. Ele citou o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), segundo a qual o homem, quando ético, é o melhor dos animais. Para ele, a ética está sendo confundida com uma visão policialesca de controle -o seu referencial deveria ser "a dignidade humana".
Ceneviva destacou que a clonagem de humanos acabaria provocando uma reformulação no direito, principalmente na área da família. Ele frisou que um clone não seria irmão ou filho de ninguém, mas apenas uma cópia.
Ele afirmou que a clonagem coletiva pode representar uma ameaça aos direitos individuais, diante da possibilidade de um Estado autoritário tentar controlar a sociedade por meio da replicação humana. Para Ceneviva, a ciência não pode tudo. "O absoluto na pesquisa é imoral e antiético."
Os três debatedores concordaram que a pluralismo da sociedade, seja sob aspectos morais, ideológicos ou religiosos, é que dará as respostas sobre os limites éticos que envolvem a clonagem.

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