São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Benedita, 84, se tratou até os 60 com 'ervas'

DO ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO

Benedita Furquim Rodrigues, 84, demonstra o entusiasmo enérgico de uma adolescente ao discorrer sobre um passado em que a cronologia dela se confunde com os mitos de seu quilombo.
Ela seria a única bisneta ainda viva de Bernardo Furquim, fundador, numa data indeterminada, da comunidade de São Pedro.
Olhos muito brilhantes, sorriso fácil, ela diz ter se consultado pela primeira vez com um médico já com mais de 60 anos. "Antes só me tratava com erva do mato."
Rádio, só ouviu quando tinha 30. Estranhou aquela caixa que produzia a mesma música que violeiros e sanfoneiros de seus bailes de mocinha. A televisão chegou há bem menos tempo, quando já lhe "apertava" a vista.
Lembra-se de seu avô, José, da primeira geração do que ela designa como a "nação Furquim". Ele morreu de úlcera, mas até o fim estava certo de que lhe haviam plantado um sapo na barriga para provocar dores muito agudas.
Outra lembrança é de histórias sobre escravos na mineração. "Era um tanto de gente tirando uma borra amarela na peneira. Diziam que achavam ouro."
"Brinquei só até os 8 anos. Depois, foi trabalho braçal. Meu pai tinha dez filhos e eu era a primeira", diz. Casou-se cedo com "um primeiro moço" que a deixou viúva depois de um ano e cinco meses.
Com ele teve uma filha, que morreu cedo. Do segundo casamento, teve um filho que morreu aos 18. A seguir, dois outros adotivos.
Alimenta-se até hoje muito bem. Aprecia "negócio de verdura e caça do mato". Não gosta de comida industrializada ou hortaliças com defensivos agrícolas. "Tem muita comida com droga", diz.

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