São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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"Mercado é muito prostituído"

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os relatores dos processos de títulos para pagamento de precatórios são unânimes em dizer que o Senado não tem os meios para fiscalizar a emissão e comercialização desses papéis.
"É preciso melhorar o controle desse mercado, que é muito prostituído. Os depoimentos na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mostram o maior espetáculo de cinismo que já vi", diz o senador Carlos Wilson (PSDB-PE), que relatou o pedido de Pernambuco para emissão de títulos para o pagamento de precatórios -dívidas de sentenças judiciais.
O senador Gilberto Miranda (PFL-AM), reclama do Banco Central.
"Os técnicos do BC é que deveriam ter orientado de forma mais incisiva os senadores", declara Miranda.
Ex-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na época em que todas as emissões de títulos sob investigação foram autorizadas, Miranda resolveu pedir à CPI para que os relatores sejam ouvidos e digam porque foram favoráveis.
"Eu fui relator e tenho os documentos comprovando a forma como atuei. Pedi mais documentação para a Prefeitura de São Paulo. E disse ao BC que os técnicos deveriam ter até um contato direto com a prefeitura", diz Miranda.
O senador afirma que "os outros relatores também devem prestar contas para a CPI, pois isso seria ótimo para a imagem do Senado".

Falta data
Essa sugestão de Miranda já está com a CPI e pode ser seguida. Tudo depende do presidente da comissão, senador Bernardo Cabral (PFL-AM). Como há muitas testemunhas ainda para serem ouvidas, essa exposição dos senadores-relatores ainda não tem data definida.
O senador Beni Veras (PSDB-CE), foi outro que relatou o pedido em plenário -no caso, da emissão de R$ 301,6 milhões para Alagoas.
"Recebi o relatório pronto. Não tinha nenhum senador de Alagoas e aceitei relatar", afirma Veras.
"Eu confiei na palavra do governador. Nem imaginava o que poderia acontecer", declara.
Depoimentos desse tipo à CPI poderão ser úteis para checar se os assessores que prepararam os relatórios foram assediados pelos agentes do mercado financeiro que comandavam a emissão dos títulos públicos.

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