São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Alfabetização chega aos confins do país

Projeto alcança divisa de AM com AC

LUCIANA BENATTI
ENVIADA ESPECIAL A PAUINI E ENVIRA (AM)

Desde o início do mês, 500 jovens e adultos dos municípios de Pauini e Envira, no Amazonas, próximo à fronteira com o Acre, frequentam, três vezes por semana, no período noturno, aulas de alfabetização.
A maioria dos alunos nunca chegou a ir à escola. Antes de se mudarem para a cidade, eles moravam na zona rural -distante até alguns dias de barco da cidade-, onde trabalhavam como seringueiros.
Envira e Pauini estão entre os 38 municípios brasileiros que participam do projeto-piloto do programa Alfabetização Solidária.
O programa é fruto de uma parceria entre o Conselho da Comunidade Solidária, presidido por Ruth Cardoso, o Ministério da Educação, o Crub (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e a iniciativa privada.
Os municípios foram escolhidos para participar do projeto por terem os maiores índices de analfabetismo do país entre jovens de 15 a 17 anos, segundo o Censo de 91.
"Não temos a meta de erradicar o analfabetismo no Brasil. Nosso objetivo é trazer os índices dessas cidades à média nacional", afirma Regina Esteves, 27, coordenadora-executiva do programa.
Em Pauini, o trabalho será especialmente árduo. O analfabetismo atinge 81,23% dos habitantes dessa faixa etária, segundo o Censo de 91. É o município com maior índice de analfabetismo do Brasil.
Em Envira a situação não é muito diferente: 65,88% dos jovens de 15 a 17 anos são analfabetos.
A média nacional de analfabetismo para essa faixa etária é de 12,4%. De acordo com estimativas do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), se nenhuma medida for tomada, os níveis de analfabetismo de países vizinhos como a Argentina e o Uruguai (inferiores a 3%) só serão alcançados pelo Brasil dentro de 20 anos.
Alfabetizadores
Em janeiro, os alfabetizadores que participam do programa nesses municípios passaram por uma capacitação na Universidade São Marcos, em São Paulo.
A universidade "adotou" os dois municípios e, além do programa de alfabetização, está desenvolvendo um trabalho de acompanhamento psicológico dos alfabetizadores (veja texto nesta página).
Eles foram selecionados entre a própria população local e têm, no máximo, o 2º grau completo.
Entre os dez alfabetizadores de Envira, nenhum havia saído da região antes de ir a São Paulo e a maioria nem sequer conhecia Manaus. Nenhum conhecia o mar.
"Um dos objetivos de trazer os alfabetizadores para São Paulo foi despertar o seu senso crítico", explica a coordenadora Regina.
R$ 17 por aluno
Os custos da capacitação -R$ 17 mensais por aluno matriculado- foram bancados pelas empresas que participam do programa.
Para a próxima fase, que começa no segundo semestre deste ano, está confirmada a participação de outros 42 municípios, todos do Norte e Nordeste.
A meta da coordenação do programa é elevar esse número para 80, totalizando 118 municípios.

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