São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-dependente deixa anonimato para ser exemplo

DA SUCURSAL DO RIO

Nascida no Piauí e morando em Brasília, Antônia Ferreira Gomes, 75, disse estar tão feliz por ter parado de beber que queria mostrar o seu rosto para que dependentes do álcool seguissem o seu exemplo.
"Bebi durante 40 anos, só cachaça purinha. Estou superfeliz por ter parado de beber. Nunca mais vou beber na vida", afirmou. Antônia dispensou o anonimato, um dos mandamentos da entidade AA (Alcoólicos Anônimos).
O AA tem como base o anonimato para evitar o preconceito social contra os dependentes e também o personalismo e a vaidade que, segundo os mandamentos da entidade, cercam o bebedor compulsivo de álcool.
Antônia era uma das cerca de 6.000 pessoas que, segundo os organizadores, compareceram à comemoração do cinquentenário do AA no Brasil.
O encontro serviu para a troca de experiências entre membros do AA no Brasil e no exterior. Adalberto P., 40, do Rio, foi outro que encontrou um novo rumo em sua vida após ingressar no AA.
Ele começou a beber aos 5 anos. "Eu bebia tudo que era cálice colorido."
Adalberto disse que, ainda menino, chegou a beber creolina "pensando que era vinho". Com o tempo, além do álcool, passou a usar cocaína. "Com dinheiro e mulher, eu me achava o rei da cocada preta. Eu era o Deus em pessoa."
O "Deus em pessoa" atingiu um estágio tal de alcoolismo que, um dia, começou a espancar a sua mulher. Por fim, separado e sem conseguir dar seguimento a qualquer atividade profissional, se sentiu no fundo do poço.
Após reuniões no AA e algumas recaídas, Adalberto disse ter conseguido parar com todas as drogas há três anos e meio. "O barato do AA é o lado espiritual. Eu tenho que me alimentar disso todo dia.".
Outro que diz ter se encontrado ao entrar para o AA foi Calixto R., 64, que bebeu durante 20 anos e parou há 12. "Uma boa refeição tinha que estar acompanhada de uma purinha (cachaça)", lembra.
Para ele, o alcoolismo é uma doença. Bêbado, Calixto ficava violento e acabava batendo nos filhos e na mulher. Ele tem mais dois objetivos pela frente: "Diminuir o consumo do tabaco e do café."

Texto Anterior: Aos 50 anos, AA reúne 100 mil adeptos
Próximo Texto: Frigidez é maior problema sexual feminino
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.