São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Grupos estudam ocultismo na Internet

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Heaven's Gate não era a única seita a usar a Internet como seu principal veículo de comunicação com o público. A Aum Shinrikyo, culto japonês que atacou o metrô de Tóquio com gás venenoso em 1995, por exemplo, também se valia da Internet, assim como centenas de outros grupos no mundo.
Já há até entidades nos EUA especializadas em estudar o "ocultismo cibernético", como a Trancenet, de Nova York, que vem analisando as técnicas de convencimento usadas pelos diversos grupos religiosos que se valem dos computadores.
Defensores da liberdade de expressão na Internet temem que o principal efeito do suicídio coletivo do Rancho Santa Fé venha a ser o aumento da pressão sobre a Suprema Corte para tratar esse meio de comunicação de maneira mais restritiva do que os demais.
A Corte decide até julho se lei sancionada por Bill Clinton que impõe censura sobre material "indecente" acessível a menores na Internet é constitucional.
Nos programas de comentários em rádio e televisão nos EUA, o caso Heaven's Gate tem sido usado com frequência como argumento de que a Internet é mais "perigosa" do que jornal, rádio ou TV e por isso não pode gozar da mesma liberdade que os outros têm.
Há psicólogos defendendo a tese de que a intimidade entre o computador e o seu operador cria o clima ideal para a conversão religiosa. Por exemplo, Larry Rosen, da California State University: "As pessoas em geral estão desejosas e ansiosas para aceitar o que elas vêem na Internet". Outros dizem que os jovens são especialmente vulneráveis aos atrativos espirituais oferecidos via Internet. Como David Greenfield: "A comunicação por computador não exige qualquer habilidade social; por isso, atinge pessoas sem defesas".
Ninguém sabe quantas pessoas foram recrutadas para o Heaven's Gate via Internet. Na verdade, embora a polícia não tenha idéia da abrangência do grupo, a indicação é que ele não é muito maior do que o número de suicidas.
Os perigos da Internet estão sendo, sem dúvida, muito exagerados pelos que pretendem ver a censura contra esse meio legalizada.
Os argumentos dos que defendem a liberdade de expressão na Internet ocupam muito menos espaço nos debates diários em rádio e TV. Eles são de mais difícil compreensão para uma sociedade moralista, conservadora e paranóica como a norte-americana.
Nos programas de auditório, bons indicadores do sentimento do cidadão médio, qualquer orador que diga estar defendendo as crianças de perigos reais ou imaginários (cigarro, pornografia, fanatismo religioso) com proibições e censura ganha muito mais aplausos do que os defensores das liberdades individuais.
O debate sobre a liberdade na Internet ganha nova dimensão com a tragédia dos místicos cibernéticos do Rancho Santa Fé.

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