São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Mulher já previa a morte do filho

JOÃO CARLOS ASSUNÇÃO

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A SAN DIEGO

A mãe de um dos mortos na mansão do Rancho Santa Fé, na Califórnia, preside uma associação que reúne familiares de membros de cultos esotéricos.
Em entrevista à Folha, por telefone, Nancie Brown mostrou-se resignada. "Há 21 anos esperava que algo assim acontecesse." Aos 19 anos, seu filho David Moore deixou Los Gatos, cidade californiana onde a seleção brasileira se preparou para a Copa de 1994.
"Ele foi influenciado por um estranho que já era da seita. Assistiu a uma cerimônia, gostou e se mandou. Avisou o irmão e me deixou desesperada", disse Brown.
"O desespero fez com que eu procurasse um especialista em cultos religiosos. De longe, conseguia acompanhar meu filho. Mais tarde, aceitei. Foi uma opção dele."
Em 1985, Brown fundou uma organização assistencial. "Faço reuniões semanais com outras mães com filhos em cultos religiosos. Sei como é difícil para elas."
Folha - Como era seu filho antes de entrar no culto?
Nancie Brown - Um adolescente difícil. Não gostava de estudar, parecia não ter objetivo na vida.
Folha - Quando ele entrou no culto, você não tentou impedir?
Brown - Só soube depois, quando ele foi embora. Ficou sete anos sumido. Chamei a polícia, mas não o encontrávamos. Quando o achamos, já era outra pessoa.
Folha - Quantas vezes vocês se viram nos últimos 21 anos?
Brown - Só duas.
Folha - E como você o sentiu?
Brown - É estranho, mas tive de aceitá-lo como ele estava. Foi uma opção do meu filho. Aparentemente não podia reclamar. Ele se transformou em adulto responsável, estudou computação, tornou-se um profissional brilhante. De vez em quando, em aniversários, ele costumava ligar ou mandar cartões. Mas foi só.
Folha - Você acha que seu filho sofreu uma lavagem cerebral?
Brown - Não sei, mas acho que ele era muito inteligente para sofrer uma lavagem cerebral.
Folha - A morte dele a chocou?
Brown - Há 21 anos esperava que algo assim acontecesse. Minha perda não é de agora, é de 21 anos.

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