São Paulo, domingo, 30 de março de 1997 |
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Governo chinês combate superstições
JAIME SPITZCOVSKY
Ao conquistar o poder em 1949, o líder revolucionário Mao Tse-Tung prometeu livrar o país de "seis demônios": apostas, drogas, prostituição, pornografia, venda de noivas e superstições. Os comunistas conseguiram avanços nessa guerra, mas as reformas capitalistas, iniciadas em 1978, trazem como efeito colateral o contra-ataque dos "seis demônios". As reformas pró-capitalismo deslancharam uma crise ideológica que enfraqueceu a influência das teses comunistas e permitiu, por exemplo, a volta das superstições. A imprensa chinesa, controlada pelo governo, faz campanhas para combater "idéias feudais". O próprio Mao se tornou vítima de crendices. É comum ver na China seu retrato pendurado no espelho retrovisor dos carros, já que a imagem do dirigente revolucionário, acreditam alguns motoristas, traria sorte. Mães preocupadas em proporcionar um futuro auspicioso a seus filhos optam por partos cesarianos, para que o bebê nasça num "dia de sorte", de acordo com o calendário lunar chinês. Em 1988, o governo lançou uma campanha anti-superstição, pois temia que jovens casais apressassem o nascimento do filho para o parto ocorrer no "ano do dragão". Segundo o horóscopo chinês, os nascidos nesse ano teriam "muita sorte e poder". "É falsa a afirmação de que os nascidos no ano do dragão têm inteligência especial", escreveu o "China Daily", jornal oficial em inglês. "A chamada boa sorte do ano do dragão não vai beneficiar uma nação superpovoada". A China, o país mais populoso do planeta, com 1,2 bilhão de habitantes, implementa uma política de controle de natalidade conhecida como "um casal, um filho". O medo do governo de ver jovens adiantando o casamento se repetiu em 1992, o ano do macaco, também considerado um "período de sorte" para os bebês. As crendices se preocupam ainda com os mortos. A polícia chinesa prendeu no ano passado dois homens que desenterravam corpos de mulheres e os vendiam como "noivas-fantasmas". Existe, entre camponeses na China, a crença de que homens que morrem solteiros e são enterrados "sem companhia" nunca "terão paz". Familiares de camponeses mortos compraram dois corpos em abril de 1995, por 2 mil yuans (US$ 240) e 1 mil yuans (US$ 120). Texto Anterior: Milhares fazem ato anti-Frente Nacional; Chanceler espanhol é internado em Ibiza; Palestinos e israelenses se chocam pelo 10º dia Próximo Texto: 44% crêem em adivinho Índice |
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