São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Falta de ar

CLÓVIS ROSSI

Frankfurt - No início de fevereiro, durante o Fórum Econômico Mundial, que se realiza todo começo de ano em Davos (Suíça), a Folha pediu a Stuart Eizenstat, subsecretário norte-americano de Comércio, a sua opinião sobre a tese da diplomacia brasileira segundo a qual o Brasil precisa de tempo para absorver a abertura econômica já realizada, antes de novas aberturas.
Resposta, curta e grossa, de Eizenstat: "O mundo está em uma corrida de curta distância e alta velocidade. Você tem que continuar correndo para acompanhá-lo".
Dois meses depois, os fatos parecem dar razão ao que soava como arrogância de um alto funcionário dos EUA.
Primeiro: está fechado o acordo para zerar até o ano 2000 as tarifas de importação na vital área de informática. O Brasil ficou de fora, fiel à tese de que precisa de tempo para respirar.
Segundo: o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Renato Ruggiero, acaba de propor uma reunião de cúpula, em maio de 98, para que os principais países ricos e em desenvolvimento enviem um firme sinal de que vão estabelecer um cronograma de ampla liberalização comercial até o fim do século, que está na primeira curva da esquina, aliás.
Terceiro: enquanto não se chega a esse mundo sem fronteiras comerciais, o Brasil tem que negociar a tal de Alca (Área de Livre Comércio das Américas), envolvendo os 34 países americanos, menos Cuba. A data tentativa para se fechar a negociação é 2005, não muito mais longe do que 2000.
A Alca é uma fonte de divergência entre Brasil e EUA, que gira, na essência, exatamente em torno do tempo para respirar que o governo brasileiro pede e que o norte-americano acha que não existe, porque o mundo continua rodando a alta velocidade e não espera o Brasil tomar fôlego.
Ainda mais quando precatórios e Bamerindus esgotam o oxigênio disponível no país.

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