São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Cade e os privilégios

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Neste mundo globalizado, como é moda dizer, cresce a importância do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade.
O Cade é um tribunal administrativo. Uma de suas atribuições principais é julgar atos de concentração de empresas para formação de monopólios.
Por causa do Cade, por exemplo, o brasileiro ficará sem usar a pasta de dente Kolynos por quatro anos.
A Colgate, empresa que comprou a marca Kolynos, teria o monopólio do setor. Para evitar essa situação desleal, terá de retirar o conhecido dentifrício dos supermercados para que os concorrentes tenham tempo de reagir.
Enfim, o Cade presta um serviço inestimável ao Brasil. Não fossem alguns vícios corporativos.
Por algum motivo obscuro, os seis conselheiros e o presidente do Cade, com salários de até R$ 6.000 mensais, têm direito a um recesso de 45 dias no final do ano. Param de trabalhar no dia 19 de dezembro. Voltam ao batente só no dia 2 de fevereiro.
Além desse feriadão, ainda têm direito a mais 30 dias de férias anuais.
Não é o caso aqui de protestar contra o estilo de vida dos outros. A não ser que esse estilo prejudique o restante da sociedade -o que é o caso.
Neste ano, o Cade só teve cinco sessões de julgamento. Apreciou 18 processos. Outros 421 aguardam na fila.
Ocorre que esse tribunal só pode se reunir para julgar quando há o quórum mínimo de cinco conselheiros -ou quatro conselheiros e mais o presidente. Para piorar, dois dos seis conselheiros aguardam a aprovação de seus nomes pelo Senado.
Basta um dos atuais conselheiros adoecer ou entrar em férias para que os outros, por tabela, também fiquem sem deliberar.
O presidente do Cade, Gesner Oliveira, é contra essa situação. Quer acabar com o recesso de final de ano.
Só que suas boas intenções esbarraram no interesse contrário de alguns conselheiros.
É o caso de alguém no governo pensar com rapidez em como acabar com esse corporativismo sem razão.

Texto Anterior: Falta de ar
Próximo Texto: O felix culpa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.