São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Ação do Bamerindus "vira pó" na Bolsa

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

No alto de cada página de seu último balanço, publicado na quinta-feira passada, o Banco Bamerindus do Brasil fez questão de mencionar seus sócios anônimos, os acionistas minoritários.
A frase "Uma empresa com ações em poder do público" seria motivo de orgulho, não fosse o fato de a intervenção do Banco Central, na véspera, ter "transformado em pó" os papéis do banco paranaense.
Os acionistas do Bamerindus -inclusive diretores que foram afastados e tiveram seus bens colocados sob indisponibilidade- agora são sócios de uma massa falida, um banco quebrado sob intervenção do Banco Central. Somente ativos ruins e de difícil recebimento fazem parte do velho Bamerindus, que precisou de um socorro de R$ 5,7 bilhões para ser fechado pelo governo.
Como aconteceu nos casos do Nacional e do Econômico, os acionistas minoritários do Bamerindus dificilmente verão seu investimento de volta -situação típica quando o patrimônio de uma empresa falida não é grande o suficiente para cobrir suas dívidas.
O sucessor do banco paranaense, o HSBC Bamerindus, não tem nenhum compromisso com o velho Bamerindus e será uma empresa de capital fechado, subsidiária integral do grupo HSBC, com sede em Londres.
O próprio HSBC, dono de 6% do banco sob intervenção, prevê perder os investimentos, feitos no final de 95. Tamanho do prejuízo: US$ 60 milhões.
"Fizemos reservas completas contra perdas do nosso investimento no Bamerindus no dia 21 de dezembro de 96, quando entendemos que havia risco no valor das ações após inúmeras reportagens sobre as dificuldades do banco", disse à Folha o presidente do HSBC, Michael Geoghegan.
Somente as ações da Companhia Bamerindus de Seguros, que não será liquidada, deverão ser recompradas pelo novo controlador, em oferta pública a ser feita daqui seis meses, conforme a apuração dos valores patrimoniais da empresa.
Caso exemplar
O "mico" em que se transformaram as ações do Bamerindus reforça o caráter arriscado do investimento em ações. Notícias sobre a situação delicada do banco foram amplamente divulgadas, mas teve gente que apostou numa saída diferente para o ex-banco do senador José Eduardo de Andrade Vieira. Tanto é que, neste ano, os negócios mensais de compra e venda de Bamerindus ON na Bovespa chegaram a R$ 1,8 milhão, segundo a Economática.
É um volume pequeno, mas que deixa a seguinte lição: não é só a oscilação dos preços dos papéis nas Bolsas, ao sabor das expectativas da economia e da política, que tornam as ações um investimento de alto risco.
As questões internas de cada empresa de capital aberto devem ser acompanhadas bem de perto pelos acionistas minoritários. A pena para os distraídos ou lenientes é a perda do capital investido.
A queda livre nas cotações de Bamerindus ON (ações ordinárias, com direito a voto) começou em meados de 96. De junho até a intervenção, na quarta-feira à noite, o papel despencou 45%, passando a ser cotado a apenas 30% de seu valor patrimonial contábil. Somente neste mês, a queda foi de 21,48%.
Não era para menos: o mercado sabia que o banco estava pendurado no socorro financeiro do Banco Central, com um buraco da ordem de R$ 2,7 bilhões em seu caixa.
Como os outros bancos privados cortaram suas linhas de crédito para o Bamerindus, a situação agravou-se gradativamente. O prejuízo do banco, em 96, chegou a R$ 256 milhões.

E-mail: papeis@uol.com.br

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