São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Candidato atrapalha

VALDO CRUZ

Brasília - Presidente/candidato pode não ser uma boa combinação. Essa mistura, em alguns casos, acaba levando a um emperramento de medidas vitais para o futuro do país.
Afinal, a decisão de hoje pode representar a perda de um voto amanhã. Uma medida impopular agora acaba virando bandeira de candidato da oposição no futuro.
Talvez esteja aí o verdadeiro motivo para o ritmo lento das reformas administrativa e previdenciária no Congresso. Além, é claro, dos interesses corporativos dos parlamentares.
É bom lembrar o que aconteceu em recente visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a São Bernardo do Campo (SP).
Vaiado por trabalhadores por causa da reforma da Previdência, FHC acabou saindo aplaudido depois de afirmar que não vai impedir a aposentadoria antes dos 65 anos.
O que o presidente não disse é que o governo realmente queria estabelecer os 65 anos como idade mínima para a aposentadoria de homens. Mas abandonou a proposta diante de resistências. Pode, até, nem mexer na aposentadoria do setor privado.
A reforma administrativa é outro exemplo. A idéia de estabelecer um teto para os salários do setor público aos poucos vai sendo minada. O limite vai existir, mas não do jeito que o governo sonhava.
Ou seja, reformas importantes estão se transformando em ajustes no velho estilo meia-sola, de pouca serventia.
A um ano de uma nova disputa presidencial, a ordem parece ser retirar da pauta do governo o máximo de medidas que possam gerar insatisfações no eleitorado.
A dúvida é saber se a economia consegue se manter estável até lá. É o risco que esse governo está fazendo o país passar.
Em tempo: não sou contra a reeleição. Pelo contrário. Mas adiar decisões pensando num próximo mandato pode ser fatal.

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