São Paulo, terça-feira, 1 de abril de 1997
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Derrotado, Maluf recebeu US$ 2 mi de empreiteira

Depósito teria ocorrido após eleição para governo de SP

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A empreiteira Andrade Gutierrez fez doação de US$ 2 milhões para a campanha de Paulo Maluf ao governo de São Paulo em 1990, mesmo depois de confirmada a derrota do candidato. O dinheiro teria servido para pagar dívida de campanha.
A informação consta de depoimento dado pelo pianista João Carlos Martins, ex-dono da Paubrasil Engenharia e Montagens, ao Ministério Público Federal, em novembro de 93.
A forma como o dinheiro foi arrecadado ainda não havia sido divulgada.
Nas campanhas de Maluf de 90 (governador) e 92 (prefeito de São Paulo), a Paubrasil arrecadou de empresas -em sua maioria empreiteiras- US$ 19 milhões.
Na época, a legislação proibia que empresas fizessem doações para campanhas eleitorais.
A maioria das empreiteiras foi contratada para obras na gestão de Maluf na Prefeitura de São Paulo (93-96).
Hoje, a CPI dos Precatórios suspeita que a prefeitura tenha emitido títulos irregularmente para gerar dinheiro destinado às empreiteiras.
Segundo Martins, o comando da campanha malufista informou que a dívida da campanha de 90 -Maluf foi derrotado por Luiz Antônio Fleury Filho- era de US$ 3 milhões. Segundo ele, o valor caiu em seguida para US$ 2 milhões.
Indicações de Flávio
Martins afirma que os US$ 2 milhões doados pela Andrade Gutierrez foram entregues em quatro cheques a Sérgio Beirute, do Banco Sistema, por indicação de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito.
Segundo ele, Flávio informou que eram dívidas da área de publicidade.
Flávio Maluf tinha conta no Banco Sistema. Em depoimento à PF e ao Ministério Público Federal, Martins disse ter depositado US$ 400 mil na conta pessoal de Flávio.
Na época, Flávio Maluf prestou depoimento no inquérito que apurava o caso. Ele confirmou os depósitos. Como não havia recolhido Imposto de Renda sobre esse valor, o filho do ex-prefeito foi multado pela Receita Federal.
A Andrade Gutierrez foi a empreiteira que mais contribuiu com a Paubrasil para as campanhas malufistas -ao todo, doou US$ 5 milhões.
Mas não se sabia que havia desembolsado US$ 2 milhões para o pagamento da dívida, mesmo depois da derrota malufista.
"Foi um pagamento até idealista, pois foi feito depois de uma eleição perdida. Ninguém sabia onde arrumar o dinheiro", afirma Martins.
"As dívidas ficaram rodando durante quatro meses, todo mundo cobrando. Tive uma reunião com o Flávio Maluf para ver como a gente ia saldar", diz Martins.
"Tenho certeza de que o Flávio Maluf está totalmente a par desses US$ 2 milhões. Isso foi pago. Alheio ele não está." Antes, segundo Martins, Flávio queria que ele e Étore Gagliardi, sócio da Paubrasil, pagassem a dívida.
Eleito prefeito de São Paulo em 92, Maluf contratou a Andrade Gutierrez para realizar uma das obras de seu governo. Trata-se do Complexo Viário Sacomã, com custo de US$ 122,9 milhões, segundo levantamento da Folha.

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