São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997 |
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Favela viveu 3 meses sob terror dos PMs
ROGERIO SCHLEGEL
Os policiais fizeram os moradores adotarem toque de recolher. Depois das 23h, quem andasse na rua estava sujeito a ser espancado. As pessoas que chegavam do trabalho mais tarde caminhavam 1 km extra, para evitar o largo das ruas Naval e José Francisco Brás, ponto preferido pelos PMs. Quem saía cedo, antes das 5h, fazia o mesmo, já que o "plantão" costumava ir das 22h às 5h. Os PMs só deixaram de fazer seus bloqueios -que chegaram a ocorrer três vezes em uma semana- depois que o conferente Mário José Josino foi morto e foi instaurado inquérito para apurar o caso. Histórias de violência Quase todo morador da favela Naval -um conjunto de casas de alvenaria que já foram barracos, próximo do local em que o Minianel Viário Metropolitano encontra a via Anchieta- tem sua história de violência para contar. Em uma ocasião, um rapaz que fumava foi revistado e os policiais apagaram o cigarro em sua cabeça. Noutra, um catador de ferro-velho foi forçado a puxar sua carroça com dois PMs dentro, que o açoitavam com o cassetete. Um Fiat 147 da vizinhança, de um morador que está preso, teve seus vidros quebrados a tiros. Há cerca de dois meses, o ajudante José Gaudino de Oliveira foi abordado pelos policiais quando chegava do trabalho, às 22h30. Antes que mostrasse os documentos, começou a levar coronhadas e golpes de cassetete. "Sem explicação nem motivo", diz sua mulher, Maria Santiago. O taxista desempregado José Edinaldo, 31, acompanhou o espancamento de um amigo que identifica apenas como Antônio. Em um sábado, os dois tomavam cerveja na calçada e Antônio se levantou para reclamar dos disparos para o alto -prática comum dos PMs-, que acordavam sua filha recém-nascida. Os policiais passaram a espancá-lo com chutes e socos. A agressão prosseguiu dentro do quintal de Antônio, que tentava entrar em casa, segundo Edinaldo. "Eram muitos e batiam com tanta vontade que um PM puxava o outro para ter mais espaço." O taxista e o amigo foram a duas delegacias e ao batalhão, mas não conseguiram dar queixa. "Disseram que tínhamos que ir à Corregedoria e nós desistimos." Texto Anterior: Detentos fazem 14 reféns em Fortaleza Próximo Texto: Agredido organizou filmagem Índice |
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