São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Favela viveu 3 meses sob terror dos PMs

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Espancamentos, extorsão, tentativas de assassinato e humilhação de civis eram rotina na favela Naval nos últimos três meses. Segundo os moradores, o grupo de PMs que agora está preso instalou o terror na área desde o final de 96.
Os policiais fizeram os moradores adotarem toque de recolher. Depois das 23h, quem andasse na rua estava sujeito a ser espancado.
As pessoas que chegavam do trabalho mais tarde caminhavam 1 km extra, para evitar o largo das ruas Naval e José Francisco Brás, ponto preferido pelos PMs.
Quem saía cedo, antes das 5h, fazia o mesmo, já que o "plantão" costumava ir das 22h às 5h.
Os PMs só deixaram de fazer seus bloqueios -que chegaram a ocorrer três vezes em uma semana- depois que o conferente Mário José Josino foi morto e foi instaurado inquérito para apurar o caso.
Histórias de violência
Quase todo morador da favela Naval -um conjunto de casas de alvenaria que já foram barracos, próximo do local em que o Minianel Viário Metropolitano encontra a via Anchieta- tem sua história de violência para contar.
Em uma ocasião, um rapaz que fumava foi revistado e os policiais apagaram o cigarro em sua cabeça.
Noutra, um catador de ferro-velho foi forçado a puxar sua carroça com dois PMs dentro, que o açoitavam com o cassetete.
Um Fiat 147 da vizinhança, de um morador que está preso, teve seus vidros quebrados a tiros.
Há cerca de dois meses, o ajudante José Gaudino de Oliveira foi abordado pelos policiais quando chegava do trabalho, às 22h30.
Antes que mostrasse os documentos, começou a levar coronhadas e golpes de cassetete. "Sem explicação nem motivo", diz sua mulher, Maria Santiago.
O taxista desempregado José Edinaldo, 31, acompanhou o espancamento de um amigo que identifica apenas como Antônio.
Em um sábado, os dois tomavam cerveja na calçada e Antônio se levantou para reclamar dos disparos para o alto -prática comum dos PMs-, que acordavam sua filha recém-nascida.
Os policiais passaram a espancá-lo com chutes e socos. A agressão prosseguiu dentro do quintal de Antônio, que tentava entrar em casa, segundo Edinaldo.
"Eram muitos e batiam com tanta vontade que um PM puxava o outro para ter mais espaço."
O taxista e o amigo foram a duas delegacias e ao batalhão, mas não conseguiram dar queixa. "Disseram que tínhamos que ir à Corregedoria e nós desistimos."

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