São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Empresário critica 'solução paliativa'

Problema está no câmbio, diz Giannetti

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O benefício que a restrição às importações financiadas em até um ano poderá trazer para a balança comercial é muito pequeno diante de seu custo: trauma interno e externo no setor de comércio exterior e pressão adicional sobre os juros.
A opinião é de Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Silex Trading, que participou, em São Paulo, de encontros de empresários e banqueiros com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
"As soluções são paliativas. Numa hora taxa-se em 70% a importação de veículos. Depois são os brinquedos. Agora é o financiamento até 360 dias da importação. O que virá sem seguida?" -questiona Fonseca.
Para ele, isso ocorre porque o governo "não trata com coragem e lucidez" a questão cambial. "Não tem farra de importações, que estão abaixo de 10% do PIB. O problema é que se exporta pouco. Exportar dá prejuízo", desabafa o empresário.
Fonseca lembra que a balança comercial é apenas um item do balanço de pagamentos. "O Brasil não pode se dar ao luxo de ter um déficit de US$ 30 bilhões em transações correntes, que inclui também amortizações da dívida, turismo etc. Isso é coisa de país rico", afirma, lembrando que esse desequilíbrio eleva a percepção do "risco Brasil" no exterior.
Ele reconhece que enfrentar o problema cambial é tema delicado, mas entende que há tempo para consertá-lo sem traumas, com desvalorizações do real acima da inflação.
"É normal que países com moeda estável façam isso. O Japão faz. A Alemanha faz. O Brasil está relutante, mas, quanto mais demorar, pior será a solução. Por que não resolver desde já?", indaga Fonseca.
Além do agravamento das pendências com parceiros comerciais como a Argentina, acrescenta, a restrição ao financiamento das importações deverá ter outro efeito negativo: pressionar o juro interno.
A demanda por crédito tende a crescer quando os importadores estiverem pagando à vista suas importações. A medida vale para embarques no exterior a partir de 31 de março.
Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio, concorda que haverá efeito sobre o juro e diz que o governo deixou transparecer falta de planejamento ao dar o novo tranco nas importações.
Como as pressões sobre a balança comercial eram previsíveis, o governo poderia ter agido antes, com medidas graduais e seletivas, afirma.
Há um ano e meio o importador financia suas compras no exterior a juros mais baixos e fica com a diferença aqui dentro, lembra Nehme.

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