São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Imbecilidade zero

GILBERTO DIMENSTEIN

A criminalidade em Nova York continua a despencar em velocidade surpreendente até para os policiais no primeiro trimestre de 1997.
Comparando com o mesmo período do ano passado, os homicídios caíram 30%; furto de automóveis, 20%. É uma redução de 70% em relação a 1990, criando a mais atraente experiência urbana.
A cidade está mais segura a cada dia, sem, entretanto, mudar os níveis de emprego, distribuição de renda ou miséria.
Apesar de discordarem do grau de influência, ninguém deixa de reconhecer que, por trás do fenômeno, está uma polícia mais presente e eficiente.
Pode fazer o teste: caminhe nas ruas daqui e olhe o relógio. Em menos de dez minutos você terá visto pelo menos um policial.
Esse policial que certamente você vai ver antes de passados os dez minutos começa a carreira ganhando R$ 3.000; em cinco anos de atividade, sobe para R$ 5.000. Se ocupar cargo de chefia, R$ 7.000.
Enfrentou vários testes para ser aceito, submete-se periodicamente a treinamento, é demitido se cometer erros graves. Mesmo assim, há fartos registros de excessos.
A polícia de Nova York ajuda a entender as cenas selvagens de Diadema, transmitidas pelo "Jornal Nacional" e, desde ontem, correndo o mundo.
Não foi um fato isolado.
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A polícia brasileira está degradada pelos salários miseráveis, numa tentação ao crime organizado. O efetivo é pequeno e, ainda por cima, mal treinado.
É ínfima a punição dos excessos, considerando a avalanche de arbitrariedades diárias. Para completar, a opinião pública é, em geral, indiferente às brutalidades; há espasmos de indignação, como neste caso. Logo todos esquecem.
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Está certo o governo paulista ao aplicar, inspirado em Nova York, a política de tolerância zero para delinquências, sejam pequenas ou grandes.
Mas uma sólida estratégia de segurança da comunidade também deve buscar imbecilidade zero dos policiais.
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Reconhecimento: o governador Mário Covas tem tentado valorizar os direitos humanos na PM.
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PS - Quem mata mais a mulher em Nova York? Em pesquisa que saiu esta semana, analisando todos os assassinatos desde 1990, os principais responsáveis são maridos, amantes e namorados.
Mais: os crimes são muito mais selvagens quando cometidos pelos maridos do que por assaltantes ou estupradores.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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