São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Requião espera ajuda de banqueiros na apuração

ALEX RIBEIRO
FERNANDO GODINHO

ALEX RIBEIRO; FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

'O roubo é feito por pessoas que trabalham no banco', diz relator

O relator da CPI dos Precatórios, senador Roberto Requião (PMDB-PR), pretende pressionar presidentes de bancos e de fundos de pensão a identificar funcionários dessas instituições que integram o esquema dos títulos públicos.
"Se o presidente do banco, o governador ou o ministro não tomam providências, eles são os responsáveis", afirmou Requião.
O relator diz acreditar que o banco, em si, não participa de esquemas para desviar dinheiro público ou de correntistas. Para Requião, "o roubo é feito por pessoas que trabalham no banco".
"Para pegar o ladrão que existe dentro do banco, talvez seja necessário pegar o próprio banco."
Ou seja: se o banco não apontar quem integra o esquema, a própria instituição poderá sair prejudicada no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito. No caso de bancos estaduais e fundos de pensão, ainda seriam responsabilizados governadores e ministros.
Esse foi um dos motivos que levaram Requião a insistir junto aos integrantes da CPI, em reunião anteontem, sobre a necessidade de convocar presidentes dessas instituições em vez de diretores.
O relator afirma estar convicto de que o esquema dos títulos não seria possível sem a garantia de que, ao final da cadeia de intermediários, uma instituição de grande porte adquirisse os papéis.
"Não há explicação para justificar a compra de títulos no mercado secundário (de intermediários). Quem não quisesse roubar ligaria para os fundos de liquidez."
Os quatro fundos de pensão que mais compraram papéis, cujos administradores depõem hoje, geraram um lucro de R$ 13,31 milhões para intermediários do esquema.
Com os títulos adquiridos pelo Bradesco, Multiplic e Banestado, o lucro dos intermediários sobe para R$ 103,28 milhões. Os presidentes dos bancos depõem na próxima segunda-feira.
Até agora, os senadores não conseguiram definir quais seriam os possíveis integrantes do esquema -se simples operadores das mesas ou integrantes da diretoria.
A única pista é no Banestado. A CPI encontrou contas de dois ex-diretores da instituição no Citibank, nos EUA, que somam saldo de US$ 3,22 milhões.
Nota do Banestado
O Banestado informou ontem, em nota oficial, que lucrou R$ 22,8 milhões com títulos públicos sob investigação da CPI.
O banco do Estado do Paraná disse, ainda, que o governador Jaime Lerner (PDT) não foi contactado "em nenhum momento" pelos senadores ou pelo governo federal para discutir a questão.
Os títulos, diz a nota, foram comprados mediante parecer do Banco Central e da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
O Bradesco confirmou ter recebido a convocação da CPI. O presidente Lázaro de Mello Brandão e o vice-presidente Ageo Silva prestarão os depoimentos. O banco não quis comentar a convocação.
Procurados pela Folha, os demais executivos convocados pela comissão -da Caixa Econômica Federal e do Banco Multiplic- não quiseram dar entrevista.

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