São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Traficantes produziram vídeo, diz CPI

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Deputados da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Crime Organizado afirmaram ontem ter evidências que mostram que as ações da PM na favela Naval, em Diadema (Grande SP), foram filmadas por traficantes de drogas.
A afirmação foi feita ontem à tarde, durante visita de deputados à favela.
Essa informação teria sido conseguida por policiais do serviço reservado do 24º batalhão da Polícia Militar, em Diadema, junto a moradores da favela.
Segundo o deputado Roberval Conte Lopes (PPB), os traficantes contrataram um profissional para fazer as filmagens porque estariam sendo extorquidos pelos PMs liderados pelo soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo.
Dois traficantes organizaram o "contra-ataque", segundo a CPI. Eles seriam conhecidos por "Negão" e "Ratão".
Lopes afirmou que, até novembro de 96, esses traficantes pagariam propina aos policiais para venderem droga sem sofrer repressão.
Desde então, os policiais teriam exigido um aumento na propina. Os traficantes não teriam concordado e teriam deixado de pagar.
"Como represália, os policiais começaram a fazer blitz, agredir e extorquir consumidores de drogas", afirmou Conte Lopes.
"O objetivo era forçar os traficantes a voltar a pagar regularmente a propina."
Contra-ataque
Mas, ao invés de voltarem ao esquema de suborno, Ratão e Negão teriam decidido se vingar.
Eles teriam contratado um cinegrafista, que teria filmado as ações dos policiais em três dias na casa número 300 da rua Naval, em frente ao local onde a PM se concentrava. Numa dessas ações, os policiais mataram Mário José Josino. Moradores da favela confirmaram que o cinegrafista utilizou aquela casa.
Os traficantes teriam enviado a fita ao comando do policiamento no ABC. Em seguida, a fita foi enviada à TV Globo, que a mostrou no "Jornal Nacional".
"Ao invés de a polícia prender os traficantes, os traficantes prenderam os bandidos da polícia", afirmou Conte Lopes.
Além de Conte Lopes, participaram da visita os deputados Elói Pietá (PT), Ubiratan Guimarães (PSD), e Afanásio Jazadji (PFL).
Apenas Pietá colocou em dúvida a versão do serviço reservado da PM. "Acho provável que traficantes tenham feito a filmagem, mas não descarto a participação de policiais militares", afirmou o deputado.

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