São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Cadê o sujeito que filmou os PMs em Diadema?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A pergunta do dia é: Quem filmou o vídeo dos policiais militares surrando, extorquindo e matando em Diadema?
Existem três possibilidades: um cidadão comum, que está com medo de represálias, um policial desafeto da turma dos Rambos de farda ou um traficante que estava tendo seu negócio prejudicado. Na minha modestíssima opinião, a terceira opção é a mais plausível.
Vejamos: uma filmadora de vídeo custa, ao menos, 25% do preço de um barraco. Eu sei, o plano Real conferiu poder aquisitivo à população de baixa renda. Mesmo assim, será que um cidadão comum teria sangue-frio e habilidade de filmar cenas noturnas com tanta precisão? Quem prestar atenção nas imagens verá que em nenhum momento o cinegrafista treme a câmera.
Se fosse um policial desafeto, a esta altura já teria saído a público para ser glorificado como herói. Afinal, os PMs bandidos estão presos e já foram sumariamente condenados pela opinião pública nacional e internacional.
Resta a opção do traficante. Aqui eu abro um parêntese. Moro no Itaim e, a poucos quarteirões do meu prédio, na rua Funchal, Vila Olímpia, existe uma boca-de-fumo. Os tiros de rojão que ouço vira-e-mexe, reza o folclore, são disparados pelos traficantes a fim de avisar a clientela da chegada de mais um carregamento de droga. Qualquer um que passe pela Funchal, de dia ou de noite, verá drogas sendo vendidas feito melões na feira. Ora, se eu, que não sou nenhuma Sherlock Holmes, sei disso, a polícia também não sabe? Claro que sabe. O que ocorre é que, em vez de acabar com o comércio ilícito, os policiais que dão as caras por lá o fazem para tomar a grana dos compradores ou apreender a droga dos traficantes. E só.
Pelo visto, o caso da favela Naval de Diadema tem tudo a ver com a boca da Funchal.
Se o governador Cuecovas (depois de dar de cuecão no Jô, virou Cuecovas) quer mesmo pôr ordem na casa, que comece por tirar o velcro das fardas dos policiais. Eu explico: a primeira providência que o mau policial toma quando vai perpetrar alguma irregularidade é arrancar da farda a tarja de velcro com seu nome.
Outra coisa: diante da apatia demonstrada no caso de Diadema, o movimento Reage São Paulo merece ser rebatizado de "Reaça São Paulo".

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