São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A nova geração vai ter que mostrar trabalho

MARCELO ELGARTEN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Este está sendo um ano em que aconteceu tudo de bom que pode ocorrer na carreira de um atleta. Em todos os torneios que disputei, aqui e no exterior, conquistei o título de melhor levantador. Só não posso falar que tenha sido o ápice. Eu estou "estourando" agora, ainda tenho muito o que amadurecer e provar.
O Report foi campeão da Superliga porque a gente teve de sobra o que faltou no Paulista, quando fomos derrotados pelo Olympikus: a equipe teve entrosamento, e um ajudou o outro constantemente. Ninguém foi estrela. E poderiam ter sido. Um time que conta com Max, Giovane, Olikhver... São jogadores de primeiro nível.
A gente teve um planejamento diferente nesta temporada.
Terminado o Campeonato Paulista, começamos do zero. A comissão técnica fez um trabalho específico para ganhar o título. Se compararmos com a temporada anterior, a parte psicológica foi diferente, e a parte física, idem.
Primeiro porque foi contratada uma nutricionista que preparava um cardápio individual para os atletas. A comissão técnica trabalhou muito a parte psicológica do grupo. Desta vez, ninguém estava saturado de jogar.
Pode-se contestar o estilo do treinador Ricardo Navajas. Mas o método de trabalho é o melhor possível. Só tenho palavras boas com relação a ele.
Mas não é fácil. Ele fica muito em cima de todo o grupo, não te larga um minuto. O Ricardo tenta controlar a vida da gente. Se preocupa com o horário que vai dormir. Há coisas de que eu discordo e discuto com ele. Ele tenta fazer uma autocrítica, mas não muda.
Você acaba se acostumando.
Nós só perdemos um jogo nesta Superliga (contra o Olympikus). O que não significa que não houve equilíbrio.
A competição estava muito equilibrada, sim. Mais do que isso, impossível.
O Olympikus tinha o Tande, o Maurício e o Kid, todos de seleção. O Chapecó, além dos estrangeiros, tinha o Carlão e o Gílson. E o Banespa com o Marcelo Negrão. Times fortes.
Aí se percebem as pequenas diferenças entre um time e outro, aqueles fatores que determinam o campeão, o jogador que está num momento superior ao dos demais.
O vôlei no Brasil continua tendo um nível altíssimo. Não é só em termos salariais. É na questão técnica também. Os estrangeiros que estão aqui não querem ir embora.
O interesse do público já foi maior. Principalmente depois do ouro em Barcelona-92. Depois, deu uma baqueada. Mas o vôlei ainda é o segundo esporte do país. Pelo que percebi, o público voltou a crescer.
Agora, vamos enfrentar o desafio da Liga Mundial. O público deve estar avisado: conquistas de imediato acho que não vão acontecer. A seleção passa por um período de renovação. Concordo que essa geração não tem o brilho da anterior. Fenômenos como um Marcelo Negrão, por exemplo, não surgiram.
Mas temos jogadores habilidosos. Há os meninos do Banespa que estão despontando. O Radamés Lattari, que eu conheço apenas por ser do Rio, como eu, deve estar tão ansioso quanto a gente. Ele também tem que mostrar trabalho.

Texto Anterior: Anteontem
Próximo Texto: Caráter não importa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.