São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Caráter não importa

EDUARDO OHATA

A polêmica do momento no mundo do boxe gira em torno da recente admissão do promotor de lutas Don King no "Hall da Fama".
Aqueles que são contra a decisão acusam King de ameaçar lutadores, separar empresários de pugilistas, manipular as organizações que controlam o boxe, entre outras coisas.
Quem não se lembra, por exemplo, que o promotor tentou -com a cumplicidade das entidades do boxe- reverter o resultado da luta em que Mike Tyson perdeu o título para James "Buster" Douglas?
Somente quando percebeu que o esporte perderia totalmente a credibilidade -e grande parte da audiência-, King desistiu da idéia.
Aliás, King, que passou alguns anos na prisão por assassinato, admite que faz unicamente o que é melhor para si mesmo. Uma de suas histórias favoritas é sobre o combate entre o então campeão Joe Frazier e George Foreman, na Jamaica, em 1973.
"Cheguei ao estádio na limusine de Frazier", diz King. "Mas, a cada queda do campeão, me aproximava mais do córner do desafiante, com quem comemorei a vitória."
O promotor conclui o episódio lembrando que chegou e deixou o estádio junto ao dono do cinturão".
Por essas e por outras, muita gente se irritou quando King foi eleito para o "Hall da Fama". Mas idoneidade moral não foi um dos critérios usados na apreciação de King, apenas o aspecto profissional.
E não há como negar que King é um dos maiores promotores de lutas de nossa era.
King realizou mais lutas por títulos mundiais nas últimas duas décadas que qualquer um. Por três vezes, King organizou mais de 20 disputas de título no período de um ano.
Essas credenciais asseguraram a King um lugar no "Hall da Fama", e não adianta reclamar. Afinal, caráter e competência não são sinônimos.

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