São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Chile comercializa Carmenère por Merlot

JORGE CARRARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para surpresa de muitos, uma boa parte dos Merlot chilenos talvez não esteja sendo elaborada com essa renomada uva francesa.
Muito pelo contrário, alguns desses deliciosos tintos do Chile -que tanto espaço têm ganho nos últimos anos no paladar dos apreciadores- podem ter sua origem nos cachos da uva Carmenère, uma outra cepa também oriunda da região de Bordeaux.
O equívoco, segundo a revista norte-americana "Wine & Spirits", começou a ser descoberto no início da década de 90 por especialistas franceses convidados, na época, tanto por entidades chilenas como pelos próprios vitivinicultores, para dar consultoria na identificação dos vinhedos do país.
Decepção
Um dos decepcionados pela revelação foi Augustin Huneeus, proprietário da Franciscan Vineyards, que acabou comprovando que seus terrenos no Vale de Casablanca, que acreditava plantados com uva Merlot (uma coqueluche no mercado norte-americano, seu alvo principal), estavam quase totalmente cobertos de Carmenère.
Ambas variedades foram introduzidas em meados do século passado. Mas, de acordo com Huneeus, a Carmenère acabou mais difundida por ser mais vigorosa que a Merlot no Chile.
O governo chileno, porém, ainda não reconheceu a cepa. Nos certificados de exportação, os vinhos -para alívio de Huneeus e do resto dos exportadores- constarão ainda como Merlot, uma variedade em alta no mercado.
Gato por lebre
A nova cepa descoberta do outro lado dos Andes tem na realidade uma história antiga. A Carmenère (ou Grande Vidure, como também é chamada) foi muito utilizada na região de Bordeaux no século 18, sendo conhecida pela qualidade dos seus vinhos e tendo ajudado a dar fama a muitas das propriedades da região francesa.
No fim do século 19, a filoxera (um pulgão que ataca as raízes das videiras acabando por matá-las) desbasta os vinhedos de Bordeaux e, após o replantio das propriedades, a cepa (por ser mais suscetível às pragas), perde lugar para outras mais resistentes como a Merlot e a Cabernet Sauvignon.
Visto deste outro ângulo, o incidente enriquece o panorama vinícola do Chile. O país adiciona mais uma cepa européia (praticamente extinta) a sua coleção de uvas nobres e coloca no planeta mais uma opção para o consumidor -algumas vinícolas já lançaram varietais Carmenère e Grande Vidure.

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