São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Preços altos mantêm o mito d'O Leopolldo

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Experimente convidar alguém para jantar (ou beber, ou dançar) pela primeira vez no O Leopolldo. Provavelmente a resposta serão perguntas: como devo ir vestido? Abre muito tarde? Irei à falência?
Oito meses depois de reaberto no atual endereço, O Leopolldo continua um mito para a maioria dos mortais. Na verdade, ele não é tão formal, funciona desde as oito da noite e só justifica os temores quando o assunto é dinheiro.
O lugar é realmente caro. Embora isto não pareça preocupar a clientela que o procura justamente pelo mito criado ao seu redor.
O desafio para um crítico gastronômico é visitar O Leopolldo e se concentrar na comida sem se contaminar pelo entorno -o gostoso bar-biblioteca da entrada e o escuro bar adiante, de um lado. Ou, de outro, a música previsível da boate, a poda cosmética do jardim, a legião de novos-ricos...
A orientação do Leopolldo é do restaurateur Giancarlo Bolla (La Tambouille), que manteve a miscigenação das cozinhas italiana e francesa. Fiel a sua tradição, esmera-se no uso de bons ingredientes, cujo preparo fica a cargo do chef José Gomes da Silva. A carta de vinhos é esforçada e o serviço só derrapa na hora de (não) acender o cigarro do cliente.
Na mesa há irregularidades, mas também bons acertos. Os pratos seguem um bom nível (exemplo do cappelletti de perdiz ao parmigiano-reggiano, risoto de cavaquinha e palmito), mas podem ter a ingenuidade de um filé com uma fatia de foie gras, mera sobreposição de caros sabores.
Ou ainda serem desastrosos como o filé de linguado com legumes, tão simples -mas, numa visita recente, tão cozido que tinha a consistência de papelão.
Ainda assim, O Leopolldo fica acima da média, graças a pratos como os ótimos, delicados peitos de codorna com cappellini na manteiga e sálvia. Ou uma sobremesa que derrete na boca e deixa saudades, como o gâteau de queijo branco com coulis de framboesa.

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