São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CPI apura operação de R$ 21 mi da Funcef

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios identificou ontem indícios da possível participação de funcionários da Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, em operação irregular com papéis de Santa Catarina.
Essa operação fabricou lucro de R$ 2,466 milhões para empresas do esquema dos títulos e só foi possível graças a uma mudança na política de investimento do fundo.
A Funcef tinha como princípio não comprar títulos públicos. Mas, em 29 de outubro de 96, o seu conselho de administração aprovou nova orientação. No dia 30, a Funcef comprou R$ 20,766 milhões em títulos de Santa Catarina.
A mudança na política de investimentos da Funcef ocorreu menos de dois meses depois da posse do atual presidente do fundo de pensão, José Fernando de Almeida, em 12 de setembro.
Em depoimento à CPI, Almeida disse que as novas diretrizes foram sugeridas por dois membros do comitê de investimentos, Francisco Mendes de Alencar Filho e Mirnaloy Oliveira Lima. Ambos foram convocados para depor na CPI.
Intermediários
Antes de chegar à Funcef, os títulos catarinenses passaram, em um só dia, por seis supostas integrantes do esquema: Vetor, Tecnicorp, Perfil, Negocial, Ativação e Vetor.
O deságio (desconto) inicial da operação, quando os papéis foram vendidos por Santa Catarina, foi de 17,13%. No final, o desconto ficou reduzido a 5,55%. As intermediárias ficaram com a diferença de 11,58 pontos percentuais.
"Confesso que a operação contém vícios. Todas essas corretoras não vão mais operar com a Funcef, pois quebraram a relação de confiança", disse Almeida, negando qualquer ligação com o esquema.
O relator da CPI, Roberto Requião (PMDB-PR), alertou sobre a rapidez das operações. O rastreamento telefônico feito pela CPI mostra que a Intervalores ofereceu os papéis para a Funcef às 12h.
A resposta teria ocorrido entre as 14h57 e 15h03 e, antes do fechamento do mercado, a Intervalores conseguiu fechar as cinco outras operações. "Não seria possível fechar essas operações com tanta rapidez. É evidente que tudo estava combinado antes, com a participação da Funcef", disse Requião.
Ele disse ainda estranhar que tenha havido 113 telefonemas da Vetor para a Funcef, 2 da Boa Safra e 1.136 do Banco Maxi-Divisa. "São contatos normais. O Vetor faz parte do mercado", afirmou Almeida.
Ele disse que, apesar do lucro dos intermediários, a operação foi rentável -a rentabilidade teria sido 15,46% superior às taxas dos títulos federais.

Texto Anterior: Secretários dizem não temer decisão
Próximo Texto: Fundos estão entre os principais investidores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.