São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Solano foi sócio de filho de executivo do Bradesco

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O filho do vice-presidente financeiro do Bradesco Ageo Silva, Júlio Mota, desistiu há cerca de três semanas da sociedade com o corretor Fausto Solano Pereira na Pecplan, empresa de engenharia genética bovina, vendida pelo grupo Bradesco em outubro de 96 por R$ 7,5 milhões.
Mota tinha cerca de 5% da Nova Genética, holding criada por Solano para adquirir 60% da Pecplan Bradesco Inseminação Artificial Ltda.. Os restantes 40% foram comprados pela empresa norte-americana ABS (American Breeding Services).
Segundo Solano, o filho de Ageo Silva desligou-se da sociedade devido à repercussão negativa da CPI dos Precatórios.
Solano foi interrogado na CPI por ter recebido um cheque de R$ 9,7 milhões da IBF Factoring, empresa de Ibraim Borges Filho, suposto "laranja" do esquema de emissão irregular de títulos municipais e estaduais.
Ageo Silva presta depoimento na semana que vem à CPI, junto com o presidente do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, ex-sogro de Solano. Silva disse à Folha, no mês passado, que os leilões dos títulos da Prefeitura de São Paulo tinham "vício na origem", bem como os papéis do Estado de Pernambuco.
"Depois de tudo isso, as pessoas no banco acharam que não era o momento do Júlio participar na Pecplan e ele não participou", afirmou Solano à Folha, ontem.
Segundo o corretor, ele ofereceu a participação a Mota por uma questão de justiça. Mota é funcionário da Pecplan há quatro anos, na área de vendas, fez especialização em veterinária em Israel e ajudou Solano a convencer a ABS a fechar o negócio com o Bradesco.
"Ele foi comigo aos Estados Unidos depois que a ABS desistiu de comprar a Pecplan. Depois de toda a negociação, achei justo dar uma pequena participação ao Júlio, inclusive financiando-o. Dei a mesma chance a outro executivo da Pecplan", disse Solano.
Solano afirmou que o contrato de sociedade com Mota foi assinado, mas não chegou a ser registrado.
O presidente do Bradesco confirmou a saída de Mota da Nova Genética, mas nega que o Bradesco o tenha pressionado para vender a participação. Segundo Brandão, foi uma decisão pessoal. A relação de parentesco de Mota com o vice-presidente do banco não teve influência no negócio e a sociedade foi proposta a ele depois da venda da Pecplan, afirmou Brandão.
O vice-presidente do Bradesco, Ageo Silva, não quis comentar o caso. Em meados de março, Silva afirmou que a venda da Pecplan foi feita de forma parcelada: R$ 750 mil de sinal, em outubro, R$ 750 mil em fevereiro passado e o restante em prestações futuras.
Silva e o diretor do Bradesco Dorival Bianchi informaram que Solano foi o único interessado em comprar a Pecplan, após mais de um ano de tentativas de vender a empresa. Foi feita uma avaliação externa e uma auditoria.
A Folha tentou, sem sucesso, localizar Mota para comentar o assunto.

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