São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Lisboa pediu demissão, mas teve de ficar

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante-geral da PM de São Paulo, Claudionor Lisboa, pediu demissão ao secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, na última terça-feira -no dia seguinte à exibição da fita de vídeo com a violência dos PMs. O pedido não foi aceito.
A Folha apurou que Lisboa colocou o cargo à disposição em reunião com Afonso da Silva na manhã de terça, após ter sido repreendido pelo secretário.
Afonso da Silva criticou Lisboa porque este não o teria informado sobre o conteúdo da fita.
O secretário e o próprio governador Mário Covas (PSDB) só souberam do que se tratava depois que o "Jornal Nacional" exibiu a reportagem, onde PMs são vistos extorquindo, torturando e dando o tiro que matou Mário José Josino.
Lisboa sabia desde a tarde de segunda-feira o conteúdo da fita.
Há indícios de que ele teve acesso à fita ainda naquele dia, no início da noite, mas essa informação ainda não foi confirmada.
Mesmo assim, não passou as informações ao secretário, o que foi considerado um erro gravíssimo pelo Palácio dos Bandeirantes.
Constrangido e admitindo o seu "enorme erro", Lisboa pediu demissão, mas foi convencido a permanecer no cargo.
A situação de Lisboa ficou ainda pior na noite de quarta-feira, quando Afonso da Silva foi informado de que o cabo Ricardo Luiz Buzeto, um dos PMs da fita, não estava preso, e sim foragido.
Horas antes, em reunião com o secretário e assessores, o comandante informara que ele estava preso no 24º Batalhão.
Mais uma vez, Claudionor Lisboa sugeriu a própria demissão. Mais uma vez foi desestimulado pelo próprio José Afonso da Silva.
O secretário também já pediu demissão a Covas várias vezes -mas não este ano. A primeira vez que pediu, foi de forma irônica, durante a primeira reunião de Covas com seu secretariado, em 1995.
O governador apresentava detalhes de seu plano de governo. Quando acabou, perguntou: "Pois bem, quem quiser desistir, que desista agora!" Imediatamente, Afonso da Silva levantou-se da mesa e, rindo, caminhou para a porta da sala. Foi barrado por Covas: "Não, você, não!"

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